segunda-feira, novembro 17, 2008

Pequena menina grande

Qual é o tamanho do coração que você guarda dentro do seu peito?
O que falar para acalentar seus desmazelos e suas pífias observações sobre o que já se foi, ou sobre o que ainda está por vir?
Gosto-te ao meu modo, sem rodeios ou palavras bonitas, sem flores ou chocolates recheados com licor!

Seus medos, meus medos, nossos medos! É o que nos aproxima, é o que nos mantém distantes um do outro. É o que nos leva pra incerteza, é o que nos aproxima de uma solidão larga...

Não posso te privar/guardar dos medos, pequena! Não posso acalmar seu coração com palavras doces e com sentimentos que um dia ao de se transformar em pegadas num caminho incerto! A vida é assim, um ponto de interrogação onde somos exclamações tentando fazer o que achamos que é certo o que achamos que realmente vale à pena.

Não quero lhe privar das amarguras, da tristeza, da solidão que se esconde dentro de nós mesmos. Não posso lhe carregar em minhas mãos o tempo todo, não posso, não quero, não vou! Pois seus lindos e pequeninos pés podem caminhar sozinhos, em passadas pequenas, mas que te levarão justamente praquele lugar, justamente ali, onde você quis chegar.

Pra onde você quer ir moça? Por onde você quer seguir? Não posso dizer, “não vá por aí”, e muito menos dizer que vou contigo quando fizer suas escolhas! Mas não tenha medo de seguir, não tenha medo de arriscar, jogue suas fichas, blefe quando achar necessário. Sinta-se à vontade para não esperar que as pessoas participem dos seus sonhos. Caminhe! Sempre em frente!

Confesso e não posso negar que meu coração se enche como um balão, quase explodindo no peito quando te vejo sorrindo, quando acordo nestas noites quentes e vejo a linda curvatura da sua coluna vertebral, seus ombros em perfeita simetria com as costas!

Quero-te ao meu modo, sonho com seus cabelos, com seu olhar safado de menina mulher, com seu rostinho delicado, com sua cara assustada, sua face tristonha!

Não tenho muito a oferecer, mas ofereço-te um céu de baunilha no fim de cada tarde, um travesseiro para acalmar suas madeixas, um sorriso para acalmar suas incertezas. Ofereço-te meus dedos para relaxar seus ombros e um copo de café para acordar-te pelas manhãs. Uma cara amassada para provar que a noite foi boa e bem dormida ao seu lado. Que tal ovos mexidos com um copo de suco de laranja no café da manhã? Que tal uma broa de fubá e um café com leite morninho nos dias frios? Que tal árvores espalhadas pela varanda? Que tal vasinhos de pimenteira na janela?

Ofereço-te a mim, como sou, para o bem e para o mal, ranzinza quando quero, despreocupado quando preciso. Não quero que você seja o que não pode ser. Não quero que sinta o que não pode e não quer sentir. Não quero.

E no meio desse emaranhado de incertezas minha pequena, não posso lhe oferecer um “para sempre”! Mas prometo-te um agora! Um agora que pode ser pouco para o momento, mas que é muito mais do que um amanhã incerto, que sequer poderá chegar a nascer!

Amo-te! Gosto-te! Ao meu modo! Da maneira que você “me trouxe” você! Da maneira que você se fez! Menina! Mulher!

Agora! Amanhã! Talvez!

quinta-feira, novembro 13, 2008

AMD anuncia passagem para os 32 nanos


Há poucas semanas do lançamento dos primeiros processadores de 45nm, a AMD já está trabalhando no futuro e, respaldada pelos investimentos massivos da Abu Dhabi, a companhia pretende se colocar no mesmo nível da Intel em tecnologia de fabricação no final de 2009 com a produção massiva de chips fabricados em 32nm na sua planta de Dresden.

A “The Foundry Company”, a nova empresa surgida pela divisão da AMD, gerenciará a partir de janeiro de 2009 a fabricação e a ampliação das fábricas alemãs, que se transformarão num dos pólos industriais mais avançados do mundo com uma capacidade de produção de 50.000 waffers mensais.

Na conferencia de Munique, onde foram anunciados os planos oficias para a passagem aos 32 nanômetros, os executivos da AMD garantiram que as fábricas de Dresden serão competitivas com as mais baratas em mão de obra localizadas na Ásia pelo seu “grau de automatização, engenharia e pela fiabilidade dos equipamentos”.

Os chips gráficos ATI também serão fabricados em Dresden, potencializando a famosa série atual com 55 nm, e avançando até as GPUs de 40 nanômetros no futuro.

Um futuro que na Intel tem tons de rosa depois dos últimos resultados referentes, as suas quotas de mercado e da chegada dos Core i7. Esta plataforma deverá conhecer a passagem para o processo de fabricação de 32 nanômetros até o final de 2009. O terceiro concorrente, a TSMC, talvez faça isso antes, segundo anunciaram. Não será fácil para a AMD, mas os novos investimentos conferem a companhia potencial para que ela possa se transformar numa alternativa necessária para o mercado e para os consumidores.

Fonte: TheInquirer

terça-feira, novembro 11, 2008

"Novelinha" criada por internautas

Se você acha que a sua vida é cheia de emoções, e que daria tranquilamente um livro, está na hora de você se atualizar. Seria melhor dizer que, a partir de agora, a sua vida dá uma série interativa na internet. O canal MSN Brasil estreou no canal "I Love Messenger", uma temporada de novelinhas da vida real, que terá 10 episódios.

O Projeto, chamado de Control C Control V, foi criado pela Microsoft Brasil e pelo núcleo de estratégia digital da Y&R, que descobriram o óbvio as histórias da vida real são fontes inesgotáveis para a ficção. Os roteiros são criados a partir de conversas reais originadas do Windows Live Messenger.

Para participar, como diz o próprio nome da série, ou melhor websérie, basta fazer um Control C Control V. Você copia a sua conversa interessante e a cola na área "Envie sua história" do site msn.copieecole.com.br. O internauta dá o título e seleciona a categoria na qual a sua conversa se encaixa: ação, amizade, aventura, romance etc.

Os donos das melhores conversas vão ganhar um kit Microsoft com mini-mouse, teclado e câmera. Quem decide é um comitê de avaliação, cujos membros não são revelados. Porém, o último episódio da série será escolhido pela audiência entre 5 histórias pré-selecionadas por um comitê. O vencedor ganhará um XBox 360.

A primeira história mostra o dilema de uma pessoa no trabalho, tentada a ir para uma balada sem que sua companheira saiba. Uma comédia. Até ontem à noite, só oito conversas estavam inscritas, metade na categoria romance, Mas a julgar pela qualidade de websérie, autores não vão faltar.

Para visualizar o 1º episódio da série, clique no link abaixo:

Episódio 1 - Que festa é essa?
Episódio 1 - Que festa é essa?

terça-feira, outubro 28, 2008

Poema medíocre

A decadência caminha nas ruas
Vestida de rosa e tem cheiro de óleo diesel
Desfigurada de complexos e cheia de desmanzelos

A verdade se esconde debaixo da saia da nega Juju
Todos sabem o que tem lá embaixo, mas ninguém se arrisca a olhar

O amor é cego porque não enxerga
Não enxerga porque é cego
Ou seja, o amor é cego porque é óbvio

A tristeza se cortou junto com a carne essa manhã
Pisou em cacos de vidro, sem sangue, sem cor
Sem dor...

Letras e nomes desconhecidos são desencontros
Porque ninguém nunca lhes disse "olá"

Verbos e preposições são putarias
Todas em justaposição com normas desleixadas, complexadas

Satélites aproximam beijos
Quando se visita céus de boca e os lambe
Com bocas desdendatas de inocência

O fim deixa de ser fim
Quando o início deixa de existir

A existência deixa de ser ar
Quando se assopram os balões de aniversário...

As letras se tornam nada
Quando sentido não acontece... Ou morre antes mesmo de nascer...

E nada cresce
Quando se desconhece aquele tal de "acontece"...

terça-feira, outubro 21, 2008

A manhã acordou com cheiro de amaciante de roupas...

domingo, outubro 05, 2008

Curtas

Cores e formas. Linhas e códigos. Bits e Bytes. Um pequeno raio de luz que me traz... O dia. Um folheto que me busca amores em três dias. Um dia escuro, uma praia sem mar, um porém sem outrora. Um amontoado de blocos de concreto que crescem e frutificam uma paisagem. Um verbo, um substantivo, vários adjetivos. Uma saudade de ontem e uma insanidade latente que me trás um cheiro amargo meio adocicado. Um tênis surrado que me conta uma história de peraltices. O que sou e o que tenho... Chama-se... Agora!

quarta-feira, setembro 24, 2008

O que é isso? Você saberia me dizer?

Uma noite insossa para quem não tem idéias.
Cedo ou tarde elas chegam. Ou se vão de vez.
Qual é a quantidade de sonhos que você é capaz de sonhar em uma única noite?
Você sabe quantificar sonhos? Você sabe quando um sonho começa ou quando termina?
Por que começa, ou por que termina?
Uma caneta é capaz de aliviar uma alma.
Várias idéias divergem de pensamentos confusos, e no fim das contas, você acaba se escondendo de você mesmo. Atrás de um sonho que você não sabe onde ou quando começou. Mas a verdade é que você não sabe nem se o sonho é realmente seu.
O mundo é um ponto ou uma grande interrogação?
Você não diz algo por que não tem coragem, ou por que realmente acha que essa coisa qualquer que você ia dizer não deve ser dita?
Você consegue? Pra que lado você quer ir?
Por que seguir por aí?
Por que não seguir?
Sonhar é imaginar, no meio do caos um menino dançando, vasculhada escombros que escondem solidão. Dançando... Era engraçado, mas o menino, apesar de sozinho, não sentia medo. O que fazer quando tudo o que resta são fotografias velhas e blocos de cimento que se soltaram das paredes?
O que fazer quando a ventania é tão forte que leva embora todo o seu lar, sua segurança?
Pra onde seguir?
Quando seu único companheiro é um cachorro e seus sonhos são acrobacias e brinquedos amontoados junto ao que um dia foi a esperança de alguém?!
Aviões sobrevoando baixos e levando um pouco de alimento... Sirva-se à vontade, pois não há mais ninguém além de você! Se preferir, coma campim junto com as vacas...
Você tem alternativas? Você tem soluções?
Talvez fosse melhor recusá-las!
Pra onde você vai? De onde você veio?
Nada além da solidão e de uma sinfonia orquestrada por mãos e uma vasta imensidão...
Mas o menino nunca se importa... Pois há tempos, ele queria somente passar um tempo sozinho...

segunda-feira, setembro 15, 2008

uma linha vermelha indicativa de erro.

Você não pode ensinar nada a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo.
(Galileu Galilei)


Uma semana e meia, ou uma meia semana? Qualquer coisa para se dizer pra alguém adjetivos, advérbios, provérbios ou qualquer coisa seja lá o que for. Um copo de suco sobre a mesa, embaixo, no chão, uma garrafa pet com água morna.

Cigarros pela metade repousados em um cinceiro de metal amarelado. Um rádio velho sintonizado em uma estação evangélica com caixas de som zunindo bençãos e louvores exaltados.

Um sonho, dois sonhos, vários sonhos. Um amontoado de meias verdades que nunca poderão ser verdades inteiras. E a tevê que não sintoniza canal algum.

O som desesperado de alguém que bate na porta porque chegou atrasado, e esqueceu as chaves de casa? Ou seria o som da chuva que poderia ter caído se o céu não estivesse tão seco, e se as nuvens não fugissem apressadamente para longe? Ouço o tilintar de pingos que se desfazem e morrem... No asfalto.

Uma poesia escrita para alguém que ainda não nasceu. Porque um preservativo ainda não estourou pra originar o rebento.

O cheiro de sangue nas ruas. Um porco posto na mesa com uma maça enfiada na boca.

Uma verdade. Qualquer verdade. Verdade qualquer.

A verdade é que tem gente que sintetiza muito bem palavras em poucas linhas, e outros simplesmente escrevem várias linhas que representam um amontoado de nada.

Linhas de código que me fazem mais humano, ou menos estático. Me dizem verdades escritas para alguém que não pode ou não quer aprender? Uma novidade.

Um cão cheiroso repousa por sobre travesseiros. E do lado de lá, um monte de gente olha furiosamente para o lado de cá.

A miopia não enxerga faces, rostos e trejeitos, somente um borrão bem feito ao longe.

Uma punheta durante o banho, e o som do esperma escorrendo entre os dedos. Pegajoso.

E o fato é que o mundo não ensina nada praqueles que não sabem o que querem aprender.

quarta-feira, agosto 27, 2008

::: Des-contexto ou desconc(s)erto?

Entrededos uma guimba acessa. Uma fumaça tóxica se transmuta em um momento que se vai. Ao longe. E se desvaz com o vento.

Um poeta morto revira no caixão porque qualquer credibilidade que não deve ser aceita, se vai, se foi. Pra qualquer lugar, mas não há, em lugar algum, um lugar.

Um copo repousa por sobre uma mesa, e debaixo... Uma mancha. Uma cicatriz na madeira. Um presente.

Uma lambida pode adocicar o seu dia?

A vida não é feita de períodos, e vírgulas não amenizam situações.

Entre eu e você há um muro de concreto gigantesco. Um silêncio profundo que me excita a alma e me enrijece o pau. Uma impotência desmedida e desenfreada.

Do outro lado da linha, o tilintar de teclas animadas quebram o anonimato e o vácuo de uma ligação.

Com quantas moedas você daria o pôr-do-sol para alguém?

Uma verdade não dita. Um sonho, um beijo, um não sei angustiado. Uma impaciência paciente. Uma punheta frenética e uma triste lágrima caída de um pau angustiado.

Quantos paus cabem na sua boca? Quantas unanimidades você conhece? Quantos eus você tem?

Uma futilidade. Um amor que se transforma em dor.

Um cinza apelidado de cor.

Um tumor que cresce no meio da garganta. Uma língua partida e cuspida em pedaços e vontades de não ser nada além... Nada.

Primeira, segunda, terceira pessoas. Qual delas você é? Quais delas você quer ser? Diga-me que o som dos meus ouvidos não é uma distância entre um grito e outro sussurro! Absurdo.

Veias levam vazios para um coração que pulsa frases de efeito. Para uma platéia. Vazia.

Com quantas frases você escreve um texto? Com quantas letras você redige um poema? Em quantas estrofes você se declara? Palavras.

Longe de mim querer ser outrém. Longe de outrém querer ser eu.

Um copo com água.

Outro copo com água.

O mijo amarelo depositado no vaso sanitário. E a certeza de que o dia teve poucas pausas para mais água.

Um sorriso guardado em uma boca desdentada.

E uma fumaça... Que se desfaz... Com o tempo...

domingo, agosto 17, 2008

Horários e fusos 2

- Você sabe quantas horas são?
- Acho que é hora de dormir.
- Mas eu acabei de acordar.
- Não tenho culpa se você troca seu dia pela noite!
- Não troco o dia pela noite, só não tenho horários.
- Qual é o horário que você costuma ir pra cama?
- Depende, geralmente faço isso quando estou cansado, não tenho um horário.
- Como assim não tem horário? Todo mundo precisa dormir no mínimo 8 horas por dia.
- Mas você tem horário pra tudo? Ou só pra se levantar e se deitar?
- Hora pra tudo ué, é pra isso que existe agenda.
- Eu não tenho agenda.
- Como assim, não tem agenda, e os seus compromissos?
- Ahhh, eles acontecem, não são premeditados nem agendados.
- Você é um irresponsável!
- Não, sou somente uma pessoa sem horários, não sou irresponsável.
- Você sabe que dia é hoje?
- Não, só me lembro dos feriados, não me lembro dos inúteis dias úteis.
- Sim, sem dúvida você é um irresponsável!
- O que preciso fazer para que você acredite que minha vida está bem assim, que não preciso de horários para ser uma pessoa responsável.
- A gente vai marcar de assistir ao jogo da seleção, aí quero ver se você vai chegar exatamente no horário do jogo.
- E a que horas é o jogo?
- As 08:00.
- Mas no horário da China ou no horário local?
- No horário local oras, como posso marcar alguma coisa com você em um horário diferente do meu?
- Mas e se você tiver um compromisso com um cliente chinês? Você terá que respeitar o fuso dele, certo?
- Sim, neste caso sim, mas isso seria uma excessão.
- Mas e se além do cliente chinês, você tivesse um namorado australiano? Pra conversar com ele, vocês teriam que respeitar os diferentes fusos, correto?
- Sim, correto.
- E se além do namorado autraliano e do cliente chinês, seus pais resolvessem viajar para a Europa? Pra conversar com eles você teria que respeitar o horário da Europa, certo?
- Sim, teria!
- E se no meio dessa história toda, aparecesse um cliente de Manaus, e o fuso fosse diferente, mesmo que pouco, porém, fosse diferente, você estenderia o seu horário de atendimento?
- Sim, o cliente é quem manda, eu teria que estender.
- Pois é, e onde ficam as 8 horas de sono?
- Não sei, seria difícil dormir.
- E pra que se preocupar com os horários, nesse caso? Sendo que o horário pra dormir seria diferente, em cada uma das situações?
- Tá bom, mas não é o caso.
- Preciso da minha agenda.
- Sim, também preciso da sua agenda, você me empresta?
- Pra que?
- É que tá na hora de ir ao banheiro... E meu papel higiênico acabou.

domingo, agosto 10, 2008

Quem aspira passado, cheira poeira

Não sei porque, mas adoro quando encontro coisas perdidas por aí... Abaixo um textinho escrito em 03 de setembro de 2004, quando eu ainda era um rapazinho inocente...

:::: LILÁS

Tem um mundinho que fica escondido lá no centro da Terra. O mundinho se chama Lilás. em Lilás os meninos são quadrúpedes-bípedes de um olho só. Eles tem orelhas no pescoço e pescoço nos pés, tem antenas na bunda e cu no nariz. O sol é triângulo e o mar é amarelo. As meninas são centopéias com bocetas na boca e seios nas costelas.

A vida é normal em Lilás. O sonho de todo cidadão nascente em Lilás é ser vermelho. Porque vermelho, sabe-se lá por que, é a única dor que tem passagem garantida em qualquer caminho desisteressado. E caminhos desinteressados estão entre as coisas mais importantes de Lilás.

Rasgar o bucho do arco-íris desbotado é a diversão preferida da maioria dos jovens de . Centenas e milhares de centenas de arco-íris perdidos nesse mundão monocromático de Lilás.

Os carros são cadeiras com rodinhas. Os aviões são libélulas gigantescas. Os meios de comunicação em Lilás são meio traiçoieiros. Sabe como é, não se pode ter muita confiança em orelhões de gigantes com dentes de tubarão. Passar informação pra outras pessoas requer habilidade, e não é qualquer ser vivo de Lilás que aceita se arriscar para transmitir conteúdo para os demais habitantes do local. Talvez seja, por esse mesmo motivo, que não existe imprensa naquele lugar.

Quando você passa pelas ruas da superfície da Terra. Ninguém nunca ouviu falar de Lilás. É verdade que nunca foram pessoas muito acessíveis. E quando um ou outro se arrisca a visitar seus próximos companheiros distantes, eles inventam um monte de nomes para os habitantes de Lilás. Marciano, E.T., Chupa-Cabras, Varginiano, Jupteriano, Saturniniano (deveria ser Saturnino, mas Saturninos a gente ainda encontra um ou outro andando tranquilamente pelas ruas da superfície da Terra). E eles detestam os apelidos. Talvez por que não façam a mínima idéia do que esse monte de nomes estranhos significam.

Lilás é um paraíso escondido. Se os homens o descobrissem, provavelmente tentariam ganhar dinheiro, de alguma maneira, com as iguarias encontradas no local. O homem, esse mesmo, que tudo sabe e tudo vê, ficaria se vangloriando da sua mais nova descoberta: o centro da Terra é habitável.

Lilás foi assim. Foi assim... Um pretérito imperfeito do não é mais. Deixou de existir quando D. cresceu, fechou as caixas de lápis de cor e não mais desenhou 'parkinsonianamente' sobre o papel ofício branco-amarelado. D. cresceu e virou dentista. E ele nem se lembrava das pessoas que ele matou. Destruiu um país chamado Lilás. Que assim como Atlântida, também deixou de existir, mas não foi submersa por nenhuma onda gigante. Lilás deixou de existir por culpa de uma cegueira que se apoderou das vistas de D. aos cinco anos de idade.

sábado, julho 26, 2008

Qualquer coisa

Uma mulher de quadril largo ajeita a calcinha "faz-estalos" enquanto aguarda um ônibus lotado para ir ou voltar de algum lugar. Se ela está indo não se sabe pra onde, mas se ela está vindo, percebe-se que o dia foi cansativo, a cara a condenava, o olhar cansado, os ombros pesados, mas a calça justa estava ali, fazendo justiça aquele quadril enorme.

Do outro lado da rua, um fã do Heavy Metal, a camisa preta, o coturno, objetos metálicos pontiagudos saindo dos punhos e de um cinto que lhe segurava a cintura. Nos ouvidos, fones, o punho direito erguido para o alto, os dedos indicador e mínimo para o alto formavam chifres, e a cabeça pendia pra frente e pra trás freneticamente, um tributo aos deuses do metal, se é que eles existem.

Na esquina acima, um camelô vendia dvds piratas e conversava com uma transeunte sobre uma novela, sobre uma tal de Donatela, que estava sendo perseguida por todos e que agora estava provando do seu próprio veneno. Imaginei que Donatela devia ser irmã de Rafael, Michelangelo e Leonardo, talvez um novo filme ou episódio das tartarugas mutantes ninjas. Vai ver Donatela era a filha do Mestre Splinter. Enfim, enquanto conversava animadamente, os dvds saiam da sua banca e iam parar misteriosamente na sacola da compradora gentil e conversada.

Na esquina de baixo um outro vendedor, este vendia paçocas e amendoins torrados. Enquanto oferecia e agradecia aos compradores com um muito obrigado, um maltrapilho lhe pedia uma paçoca, porque estava com fome. O vendedor recusou. E com um tapa, a bandeja de paçocas e amendoins foi parar no chão. Antes o vendedor tivesse dado a paçoca para o rapaz maltrapilho, que agora era perseguido pelo vendedor. Dois policiais que viram toda a cena, nada fizeram. O vendedor voltou, e era visível em sua cara desconcertada que não tinha conseguido pegar o outro rapaz. Conversou com os policiais, na tentativa de que estes fossem atrás dele. Estes, por sua vez, só disseram que não podiam sair dali, pois a rota deles era só até aquela esquina. Se eu fosse o vendedor eu tinha dado um tapa na cara de um deles e queria ver se eles o perseguiriam só até aquela esquina.

Nos ônibus, bocas beijavam vidros, e olhares assustados suplicavam para que os motoristas não abrissem as portas de forma alguma. Mas sabe como é, todo motorista é do contra. E um fato. Não sabem ler olhares através do retrovisor.

No cantinho de uma loja, já fechada, uma ceia. Dois mendigos dividiam um pedaço de pão dormido.

Meu ônibus estava chegando, e me fui... Deixando pra trás... Um amontoado de olhares incompletos e várias observações por fazer...

segunda-feira, julho 14, 2008

O que você faz quando está dormindo?

Um beijo, um sono, um sorriso...
...Um sussurrar de olhos...
...Um grande sorriso saindo da sua boca grande...
...Uma hipótese, duas hipóteses... Um Silêncio...
...Um bocejo... Dois bocejos... Uma soneca...

Qualquer coisa...
...Dois braços pequenos carregam coisas demais...
...E se cansam... Depressa demais...
...Ganhando trocados em um cofrinho sujismundo...
...Para comprar coisas... Sensações... Prazeres... Proliferações...

Algo...
...Mãos geladas tirando o sossego daquela soneca...
...Olhos cerrados e um ronco embalando amanhã...
...Uma poesia grudada na porta de lugar algum... Acordando dias...
...Um desassossego...
...Mexe daqui, vira pro lado de lá... Pro lado de cá...
...Um suspiro fundo... Outro ronco...

Sinceramente...
...Um amor esquizofrênico e semi-incondicional...
...Um coração partido e um bastão de super-bonder...
...Duas mãos que o embrulham em um pedaço de papel celofane...
...Entregando este mesmo coração para um outro comprador apressado...
...Pra quem entregá-lo? Por que entregá-lo a alguém? ...

Onde...
...Um lugar onde os arco-íris são feitos de algodão doce...
...A chuva tem cheiro e sabor de suco de tangerina...
...Paralelepípedos são balas de goma...
...As construções são feitas de barras de chocolate...
...E todos os sonhos tem um gosto bom sabor agora...

Quando...
...Pôr-do-sol...
...Braços fortes dobrarem linhas retas formando esquinas...
...Paisagens se transformarem em um momento guardado em mim...
...Pasta de dentes limparem ontem...
...Fumaça se desfazer neste momento e embalar...
...Seu sorriso...

- Ei, ei, (uma sacudida) acorda, você está atrasado para hoje... Você não vai trabalhar?
- Bom dia margarida... Sim... Me vou... Mas antes de tudo... Gostaria de poder regar o seu jardim...

segunda-feira, julho 07, 2008

Forma que deforma

Acordei às 15h da tarde com minha namorada em cima de mim com uma tesoura nas mãos. O objeto não era bem uma tesoura, era um podão, aquela tesoura grande de jardinagem... Segurava o objeto friamente com lágrimas nos olhos. Não entendi o motivo, mas assustado com a cena resolvi fazer aquele efeito pinote com o meu ventre, o que fez com que Josi (esse é o nome da minha princesa) fosse parar no chão. Sem pestanejar muito, me levantei rapidamente para não dar chance de uma nova investida da senhorita, agora já não tão minha namorada assim.

- Caralho mulher, que porra é essa? O que é que tu tá fazendo com esse tesourão aí na mão?
- Eu ia cortar o seu pinto fora seu viado, pra você aprender a tratar uma mulher como se deve.
- Como assim? Tá usando psicotrópico nega? Que merda é essa de cortar meu pau fora? Tá querendo arrumar confusão?
E com a voz embargada ela prosseguiu:
- Você já há algum tempo não me olha daquela maneira apaixonada. Você repara mais nas minhas amigas do que em mim. Você não fala mais do meu cabelo, não elogia o meu corpo, você não liga mais pra mim. Você tá me traindo!

Voltemos um pouquinho para que possamos entender o que se passou. Josi é uma estudante do sexto período de educação física. É uma menina viciada em academia e cultua bastante sua forma física. Nada exagerado demais, digamos que ela não come, não bebe e dorme pouco, o restante do tempo ela passa na academia, isto quando não está na faculdade, obviamente. Na verdade Josi dá mais importância para a sua esteira eletrônica do que para as pessoas. Tem um corpo lindo e um rostinho angelical. Quando conheci Josi meu sonho sempre foi colocar as mãos em seu rabo volumoso e rijo (alguém aí deve estar pensando que eu sou um tosco, pois falei 'rabo' e deixei de lado os sinônimos belos, mas enfim, não sou escritor, sou um fodedor, então, que se fodam as nádegas e que fodamos o rabo).

Ao contrário de Josi não tenho pretensões à esportista, tenho um papo razoável, nada que seja estupidamente ignorado por qualquer pessoa, mas a Josi é uma pessoa que cultua somente o corpo, portanto, sua massa encefálica não é tão desenvolvida quanto o seu rabo e suas coxas. Estou começando a ficar com uma barriguinha de 'chopp' invejável, estou quase conseguindo posicionar um copo lagoinha em um ângulo reto. Ângulo este que pode ser calculado em posição quase horizontal entre minha pança e o céu.

Nos conhecemos em uma roda de samba, eu estava sentado, bebendo e a Josi lá, dançando. Não sou um pé de valsa, na verdade eu bebo muito, e como eu não consigo ficar sem cambalear para os lados durante grande parte da noite, não tenho o hábito de dançar. Motivo pelo qual ela detesta sair comigo.

- Que isso?! Como você foi pensar uma coisa dessas? Eu nunca olhei pra outras mulheres com segundas intenções!
- Seu MENTIROSO! A Pâmela me disse que você deu uma encoxada nela quando estava indo para o banheiro!
- Você vai me desculpar, mas a culpa é da sua amiga, eu fui passar para a fila do banheiro masculino, ela é que empinou o traseiro e esmerilou o meu bilau com as ancas.
- Ahhhh então agora a culpa é da minha amiga? Você não presta, bem que mamãe disse que essa coisa de namorar com empregado da construção civil não ia dar certo, ela me avisou que você só queria abusar de mim.
- Como assim? Eu não trabalho na construção civil!
- Não trabalha ainda, mas você vai trabalhar algum dia, porque você não sabe fazer merda nenhuma da vida, você vai é fazer serviço braçal, seu burro!
- Ahhh então agora é assim... Vai começar a me insultar abertamente? E você sabe fazer o que minha filha, você só sabe correr em cima daquela merda de esteira o dia inteiro... Até parece trombadinha correndo da polícia!
- Seu cafajeste!
- Sua fútil!
- Inútil!

A vida é curta, e é importante sintetizar os sentimentos, porque se você gasta muito tempo floreando palavras e sensações, você acaba perdendo a graça das reações.

Sentados na cama, já vestidos, resolvem conversar mais calmamente sobre o que está acontecendo. Agora eu me pergunto, será que estava de fato ocorrendo algo?

- Poxa, você ia mesmo ter a coragem de cortar o meu negócio fora?
- Se eu quisesse realmente cortá-lo fora, eu o teria feito, só queria te assustar.
- E você realmente conseguiu, mas não entendi porque você queria me passar este susto, agora eu não sei se consigo mais dormir ao seu lado, não dá mais.
- Não fala assim, foi só uma brincadeira de mal gosto, vamos continuar juntos, eu amo você.
- Eu também amo você, mas eu acho que eu amo mais o meu pau do que você e essa cena não vai sair da minha cabeça tão cedo, agora vou ficar imaginando se você realmente teria a coragem de fazer isto ou se realmente foi só uma brincadeira de muito mal gosto.
- Vamos tentar continuar juntos, se você continuar com essa insegurança “besta”, a gente termina.

Insegurança besta? - Pensei. Como uma pessoa com aquela caceta de tesoura nas mãos pode falar que eu estou inseguro?

E a vida correu naturalmente... Josi continuava correndo em sua esteira diariamente, enrijecendo contornos e formas, eu agora bebia mais do que o normal, não conseguia ficar sóbrio. Josi me ligou hoje na parte da manhã para perguntar o que iríamos fazer no dia dos namorados, disse a ela que iríamos ao motel e somente ao motel e nada mais. Ela pediu que eu fizesse exercícios físicos, pois não queria sentir a minha barriga protuberante encostando em seu ventre. Informei a ela que o único exercício que pretendia fazer naquele dia era sexo e nada mais. - Mais uma discussão.

- Eu fico me matando na esteira pra manter a minha minhas curvas arredondadas e você aí, com essa barriga flácida.
- Pois é, também estou cultivando minhas curvas arredondadas!
- Não, essa curva arredondada eu não quero pra mim. Eu quero curvas bem trabalhadas e esbeltas. Não quero que meu namorado seja um círculo asqueroso.
- Tudo bem, eu faço os exercícios.
- Ai meu bem, jura?
- Não!
- Então não faça os exercícios, seu porco.

Nos encontramos a noite para a troca de presentes. Ela me deu pesos para malhação. Eu dei a ela um livro de geometria, para que ela pudesse ficar enaltecendo as tão almejadas formas, e também para que ela descobrisse que não existem somente formas arredondadas neste mundo.

Acordei com dois palitos de dente cravados em minha bochecha esquerda.

Nunca mais vi Josi.

terça-feira, julho 01, 2008

Um monólogo entre ele e si mesmo

Ela não sabe qual é a cor das coisas... Não sabe qual é a angústia do seu dia, qual é a cor do teu céu... Qual é a boca que te alimenta... Não sabe qual é a roupa que melhor lhe cabe... Nem a felicidade que te espera... Não sabe a quantidade de sorrisos que ficaram guardados, nem a quantidade de coisas que se adormeceram, não sabe...

Ela aprendeu a esperar mais dela mesma, o que é muito bom... Pra ela... Aprendeu a contar sem dedos, aprendeu a adormecer sem travesseiro, a dormir no vazio e a guardar-se no frio. Aprendeu... Aprendeu...

Aprendeu que desejar boa noite é coisa de gente débil, que lisonjeios são coisa pra fracos e que pessoas são brotos de si mesmas e não de um aglomerado de nós dois.

Aprendeu que aprender leva mais tempo que o necessário, e que palavras são só palavras quando soltas ao vento. Senta, espera... Não... Tenho que ir ali, acolá, a qualquer lugar. Depois a gente se vê, se fala, se toca, se congela.

Aprendeu que não se deve esperar...

- Ei, sabe qual é a novidade?
- ...!
- Ei, você tá aí?
- ...
- Ei, você tá fazendo o quê? Tá ocupada?
- ...
- Quando chegar me avisa!
- ...
- ...
- ...
- ...
Off...
- Te mandei um SMS, mas pelo visto ele não foi entregue!
- Sim, parece que não... Mas um dia ele chega... Pode esperar que ele chega...

Palavras são só um amontoado de coisas, que nem sempre fazem sentido... Mas no momento, elas são tudo o que tenho agora...

Até mais ver.

quinta-feira, junho 26, 2008

Pontos Cardeais

I

Acordado às 3 da madrugada. Brotoeja parindo musgos escondidos entre-dedos sem unha e livros amarelados. Uma voz petulante ronrona pesadelos, traços, lampejos de um dia produtivamente insosso.

II

Um sapo-boi coaxa no sertão em cima de um cacto roxo.

III

Por sob pés, o som de folhas secas se desfazendo alisa almas vazias. Arando um deserto de areia e cal que frutifica solidão. Uma boca faminta lacrimeja sono por entre pupilas, enquanto guimbas repousam sobre roseiras ofegantes.

IV

Vacas adormecem nos pastos. Um cão sarnento se coça em frente a uma capela descampada. Dois gravetos santificam o que não há. Do céu fumaça cai sopa de letras.

V

Papéis de parede refletem prédios, casas e estradas. Bocas purulentas vomitam neon vermelho e pintam cidades, frutificam verbos... Pisoteiam arco-íris como se fossem bosta de gado.

VI

Mas baixo colidem trejeitos. Orgulho mata moinhos de vento. Em um quarto escuro gritos e absurdos paridos de ouvidos-parede. Dedos tilintam substantivos e magoam adjetivos. Inerte no canto, um floco de poeira que queria ser tijolo.

VII

Uma gargalhada ecoa e um coração destoa. Cacos e assombros de ontem. Hoje tão cinza. Uma suave brisa vagueia cabisbaixa, por entre rostos hipotérmicos. Um canto mudo nina uma criança que não dorme. Olhos apavorados.

VIII

Alguém adormece tranquilo, outrem adormece sedado por causa de uma cárie que incomodava a voz de um louva-deus. Amor e ódio cruzam dedos e se esfaqueiam. Uma bomba explode cabeças do lado de lá. Um coração cansado adormece do lado de cá.

IX

Pare, olhe, atenção. Olha de um lado, olha de outro. Chegamos a metrópole desenfreada. Que cresce por sobre lápides e ninam crianças com epitáfios. Qualquer hora, qualquer dia. Time is money! Fica mais um pouco. Não dá. Até logo. Até breve. Até nunca mais. Te prometo cada dia um conto. Uma história, um desmanzelo, um copo com água, um sorriso. Não dá. Até logo. Até breve. Até nunca mais. Parirei uma árvore com o seu nome, um livro póstumo dedicado, uma folha verde, um céu azul, uma trejeito de mim, um agora amanhã, uma falha para momentos, uma idéia por contento e um sonho por seus pensamentos. Não dá. Até logo. Até breve. Até nunca mais. Te faço aqui, ali e acolá, te dou música, letras e um oboé, te faço harpa, dedos e hortelã, te broto filho, te caso comigo, te gosto desde agora, hidrato sua pele com barro, te volto as origens, te grito um suspiro e te incomodo dia nenhum. Não dá. Até logo. Até breve. Até nunca mais. Tudo. Não quero nada.

X

Qual a cor da sua gargalhada? Mal acostumada com uma poética desgraçada e um dormitar de dentes e calos e fibras de vidro. Corta madeira, me passa os pregos, cola quente colando corpos. Acrílico. Um avião cai no milharal porque o passageiro não sabia voar em um avião sem brevê. Um gato se limpa sobre a cama. Um dente embaixo do travesseiro se vira e transforma-se em cal.

XI

Qual é o seu sonho? Quantos anos você tem? Qual a idade da sua casa? Há quantas quadras você vem? Uma hipótese! Um ímã de geladeira segura caos. Um dança, um aconchego, um beijo e estrelas no céu da boca. Um carro distancia devaneios. A pressa!

XII

Um abrigo de sonhos. Pálpebras assustadas. Um assopro, um respiro. Descanse em paz.

terça-feira, junho 17, 2008

Paradeiros e destinos

Eliomar acabara de fazer seus vinte e poucos anos, e queria sair por aí, não tinha um rumo certo, queria conhecer lugares esquisitos, outros nem tanto, alguns até belos devido a disposição e a organização de uma sociedade sempre em mutação, enfim, queria conhecer o mundo da forma como ele era proposto.

Na mochila, um punhado de maldizeres da mãe, uns trocados do pai, um mp3 player com as músicas da irmã, e duas peças de roupa que ganhara no último dia dos namorados. Nos pés um par de sapatos que ganhara da avó.

1ª Parada: "Misantrópolis". Não viu pessoas, mas as contruções eram simples e belas. As casas não eram rodeadas por muros, uma simples cerquinha branca rodeava os casebres. O cheiro da solidão entrava corriqueira e tranquilamente em suas narinas e repousava pesadamente em seus pulmões. De dentro de uma das casas alguém gritou: "O que fazes aqui? Você tem passaporte? Como chegou até aqui? Quem te deixou passar na fronteira?" - Silêncio.

Não houveram novas perguntas, e, caso houvesse, não haveriam respostas... Então o silêncio convenceu a voz, que passara a achar que deveria se tratar-se de algum antigo morador que resolvera voltar as origens.

Não haviam mercados, postos de combustível, carros nas ruas. Nas casas via-se hortas, poços de água e platações de caqui. Qual é o sabor da indiferença? Com a língua pra fora, tentou sentir sabores... Gosto de saliva.

Mais alguns passos vislumbrou o primeiro habitante, um cão despenteado que lambia suas bolas em frente a igrejinha. Eliomar resolveu estabelecer contato com o cão. Assobiou, bateu com a palma das mãos nas coxas. O cão até olhou, mas achou mais interessante continuar lambendo suas bolas. Em um ato de auto-crítica, Eliomar resolveu mudar a forma de comunicação. Tentou lamber suas bolas em vão. E num ato desesperado, acabou lambendo o chão sabor barro. Ao levantar os olhos, deparou-se com o cão, de joelhos dentro da igreja, pedindo pela alma daquele pobre rapaz que caçava minhocas com os dentes.

Levantou-se. Mais alguns passos, uma linha imaginária levava-o para um cidade vizinha.

2ª parada: "Esputartópolis". Do lado de cá da linha as casas ainda eram casebres, porém, já avistava-se alguns muros altos mais ao longe. Conseguia avistar sacadas... E pessoas sentadas em banquetas de tijolos. A rua era coberta por um líquido branco com pequenas bolhas de vento saindo de suas entranhas. Resolveu se aventurar e caminhar no meio do líquido meio escorregadio enquanto aspirava. Deste lado de cá o cheiro que caminhava tranquilamente por entre os dentes, era de ferrugem. Não se importou muito.

Chegando próximo das pessoas, viu que, de suas bocas saia saliva, babavam muito, formavam-se rios de baba sob pés que firmavam o corpo daqueles que estavam sentados nas banquetas, o líquido escorria e ia parar direto na rua. Foi aí que percebeu que era cuspe que cubria a rua.

Resolveu cumprimentar uma senhora que achou que seria interessante cuspir em sua cara. Assustado com aquele monte de saliva em sua testa, já escorrendo pelos olhos e nariz, quase chegando na boca, afastou-se dando passos para trás. Porém, os passos apressados fizeram com que ele escorregasse e caísse deitado no chão. Caiu em cima de uma linha dura que lhe machucou os ombros. Levantou-se e com os pés, já encharcados de baba, afastou aquele "mundareu" de cuspe notando que ali tinha uma estrada de ferro, de onde, de fato procriava o cheiro da ferrugem. Saiu correndo para a próxima linha imaginária, não sem antes cair, quase se afogar em baba e vomitar resíduos de ontem no seu hoje borbulhante.

3ª parada: "Baquistatópolis". Cruzando a linha... Uma senhora nua e agachada na calçada recebia um senhor também nu pelas costas, esfregava o saco dele com a mão esqueda, enquanto a direita se apoiava no chão para manter o equilíbrio. Em degraus, uma senhora chupava o pau de um garotinho com olhar estático-perturbado-delirante e punhetava um senhor de meia idade pela lateral. O rosto corado deixava claro q ela estava adorando o que estava fazendo.

Eliomar não enxergava casas... Só um mundareu de gente nua ou com as calças no meio das pernas...

Um, dois, três passos... Senhores bêbados chupando bocetas e limpando dentes com pentelhos... Quatro, cinco, dez passos... Uma mulher nua em pêlo pergunta a Eliomar porque ele demorara tanto pra chegar, eles estavam esperando-o a semanas. E foi abaixando as calças do rapaz.

- Porque vocês fazem isto no meio da rua? Não seria melhor entrar dentro de casa?
- Mas em casa não tem essa variedade de paus e bocetas, na rua é melhor, pode-se escolher alguém diante de uma infinidade de opções.
- Mas ninguém é casado aqui não?
- Sim, todos somos, meu marido está ali, enrabando aquele policial, está vendo?

Eliomar não tinha falas, e no silêncio a senhorita lhe serviu uma bebida. Era um líquido escuro e grosso, não sabia dizer o que era, mas tinha gosto de álcool. Tomou de um só gole.

A esta altura, a moça já se enfiara no meio das pernas de Eliomar. Misturando cabelos e dentes com um pedaço de carne rijo e pulsante... Atrás dele surgiu um senhor que começou a forçar a entrada do seu cu. Não ouve resistência. Eliomar seguiu sem pregas para o próximo destino.

4ª parada: "Egotópolis". Já recomposto e com a roupa no corpo, pessoas caminhavam olhando para o umbigo. o céu resolveu nascer no chão para que eles pudessem vislumbrar o raiar do dia. Eram cegos... Pois o sol queimava retinas. Pessoas plantavam brotos de si mesmo tocando o chão que ficava sob suas cabeças.

Com o indicador enfiado na terra... Nascia um novo ser quase animado sem a parte que fora utilizada para lhe brotar. Alguns caminhavam sem cabeça por ali, outros sem língua, cotovelos, joelhos, coração.

Não conversavam entre si, tinham todos espelhos grudados nas costas com cola quente, para que outrem pudesse ver diante de si, sua própria imagem refletida. Alguns tragavam cigarros e queimavam o peito com brasas.

Assustado consigo e com os outros. Eliomar não andou... Correu.

5ª parada: "Pasárgada. Enfim Eliomar conheceu alguém, um jovem Manuel... Caminhando alegremente por campos tranquilos, escorregando em paus-de-sebo, amando mulheres, encantando donzelas, desvirginando campinas, tomando banhos de rio.

No fim da tarde, um velho Manuel raquítico e franzino vinha buscá-lo. De mãos dadas pastoreavam por entre cabras. Um arco-íris iluminava caminhos por entre olhares. Permutavam confidências. Por azar... Manuel não gostou de Eliomar. Como era amigo do rei, mandou que extraditassem-no na manhã seguinte. Acusação: Entrar na cidade sem passaporte... E sem pregas.

Foi mandado de volta para a casa de sua mãe, aos 42 anos de idade...

sábado, junho 14, 2008

Horários e fusos

As doze horas e zero minutos Arnaldo está sentado no vaso sanitário do banheiro da empresa, uma forcinha para entender irremediavelmente o motivo pelo qual os seus colegas de seção passaram a ignorá-lo sem motivo. Talvez não haja de fato um motivo, talvez seja Fívio que tenha plantado a semente da discórdia entre os colegas da seção, na última quinta haviam travado uma pequena discussão sobre política.

As doze horas e quinze minutos Arnaldo pensa que os picotes dos papéis higiênicos estão maiores, antigamente os quadradinho picotados (que somados formavam o gigante rolo de 30 metros) eram menores e mais fáceis de serem destacados. Por que a empresa não comprava um papel decente? Trabalhar tinha que ser algo bastante prazeroso, mas não o era, pelo menos não na empresa em que ele trabalhava... E nem no banheiro ele se esquecia da dor do trabalho. Acreditava piamente que o papel ruim era proposital, e não tinha nada a ver com economia feita pelo departamento de compras. Nessas horas lembrava-se de alguns de seus colegas que eram delicados demais. Como será que eles se limpavam com aquilo? Arnaldo ficou imaginando caras contorcidas esfregando um pedaço de papel no rabo... Uma cena um tanto quanto engraçada de se imaginar.

As doze horas e vinte e cinco minutos tentou lavar as mãos na pia, não havia água, um problema na tubulação da empresa fez com que a água fosse desligada naquele dia para que o suposto encanador pudesse fazer os reparos necessários. Não lavou as mãos.

As doze e quarenta sentou-se na frente do computador para teclar com uma (des)conhecida que havia 'conhecido' em um destes sites de relacionamentos. Digita daqui, digita de lá, um sorrisinho bobo no canto dos lábios, ajeita a pança dentro da calça jeans apertada, mexe com os pés daqui, cruza-os outrora, curva-se pra frente pra poder ficar mais próximo do monitor (como se não estivesse enxergando nada do que estava ali digitando), ajeita um pouco a curvatura errada da coluna, outro sorrisinho bobo.

As doze e cinqüenta e sete Fívio, Adalberto, Marcaurélio e Tício retornam para o departamento... Estavam retornando do almoço. Entraram fazendo um estardalhaço, quando viram que Arnaldo se encontrava sentado-curvado-amontoado na cadeira... Silêncio... Shiiiii... - A essa altura a conversa animada de Arnaldo com sua conhecida já havia ficado de lado.

Arnaldo tinha vontade de perguntar o motivo do silêncio, o que tinha ocorrido de tão grave para que todos passassem a ignorá-lo escrachadamente. Mas respirou fundo e definitivamente desistiu da idéia.

As treze e trinta e dois adentrou-se na sala uma linda funcionária do departamento financeiro. Pediu licença com uma voz açucarada e informou que estava ali para usar a copiadora. Todos, sem exceção consentiram com a cabeça e puseram-se à disposição para quaisquer dúvidas/reclamações/sugestões/atendimentos/auxílio necessários.

Marcaurélio estava fazendo pose de chefe da seção, pedia um relatório daqui, um relatório de lá, enfim, as treze horas e cinqüenta e cinco minutos Arnaldo resolveu se levantar para beber um copo d'água na cozinha. Marcaurélio sem pestanejar perguntou onde sua graça ia, informação que Arnaldo lhe transmitiu solicitamente informando o seu destino. Aproveitando a deixa, Marcaurélio resolveu exigir que lhe fosse trazido um copo com água. Arnaldo consentiu com a cabeça.

Na cozinha encheu o copo prontamente, e, para demonstrar ser um bom colega de trabalho (sendo que não devia nenhuma obrigação à Marcaurélio, pois este não era o seu superior) colocou duas pedras de gelo e resolveu remexe-las no copo com o dedo indicador, uma cena um tanto quanto inocente perante os olhos de Arnaldo.

Entrou novamente na seção e entregou o copo a Marcaurélio que deu uma longa golada na água... “Poxa, esta está geladaça, mas está com um gosto estranho esta água, será que é por causa do rapaz que está mexendo no encanamento?”

A moça bonita resolveu pedir um gole da água do Marcaurélio, não entendi, mas o pediu com uma carinha bem safada (como se precisasse ele não iria negar-lhe um gole nem em mil anos, e você acha que ele ia perder a oportunidade de deixar a tal beldade encostar os lábios carnudos na borba do copo?).

As quatorze e doze a moça bebeu na fonte e logo em seguida, quando a língua sentiu o 'gosto' da água insípida, que na verdade não era tão insípida assim, logo esbravejou - “Esta água está com gosto de merrrrddaaa!!” - E todos já olharam pra mim, Marcaurélio levantou e veio tirar satisfação. - “Tu tá de onda comigo seu bosta? Tá pensando o que? Agora tu vai apanhar!” E cumpriu sua ameaça dando em Arnaldo um pontapé na canela. Porém, este, por fim, retribuiu a carícia com um soco certeiro na ponta do nariz, o que fez com que a cara de Marcaurélio fosse coberta por um líquido melado e vermelho.

“Tu me quebrou o nariz, caralho... Tu me fez sangrar seu filho duma puta...”.

A Beldade, que obviamente não iria ficar ao lado de Arnaldo, resolveu sair em apoio a Marcaurélio, pois, conforme vocês notaram ela havia dado uma bicada no copo d´água remexido com o dedo de merda de Arnaldo. “Vai gente, pega alguma coisa pra limpar o sangue!”.

Alguns minutos depois lá me vem Fívio com o rolo de papel 'lixa cu' nas mãos... E se dispuseram três pessoas a esfregar gentilmente o papel na cara de Marcaurélio... Não sei muito bem o que ocorreu, mas sei que no fim das contas o nariz do dito cujo não chegou a quebrar...

No fim de toda a história Arnaldo não chegou a ser demitido, mas adorava ver o resultado da confusão depois que tudo se aquietou, o papel higiênico fez um grande estrago na cara do pobre coitado do Marcaurélio.

No dia seguinte a senhorita beldade, funcionária do departamento financeiro, resolveu liberar uma pequena quantia a mais para que pudesse ser comprada outra ‘espécime’ de papel higiênico... Agora utilizavam papel 'Extra soft' para limpar a bunda...

terça-feira, junho 10, 2008

Covers que só os gringos fazem

Empresas como o Yahoo e a Pepsi (refrigerante que é mais bem conceituado em seu país de origem do que aqui propriamente) estão com uma iniciativa bacana. Na verdade esta iniciativa não é recente, já ocorre há um bom tempo. Eles colocam em estúdio artistas para fazer covers de músicas consagradas. Achei ótima a idéia. Uma pena que isto não ocorra por aqui, iniciativas entre os grandes portais brasileiros e outras empresas.

Por falar nisso, pra quem não conhece, aqui vai uma dica. O Yahoo! tem um canal excelente de vídeo que é o Yahoo! music, canal este onde você pode assistir aos clipes do seu artista favorita, e o melhor é que ele vai incluindo na lista, automaticamente, artistas de acordo com o gênero escolhido por você. E você ainda pode informar se está gostando das seleções que o Yahoo está mostrando para você, e agora vem o mais impressionante, de acordo com as marcações dos artistas, ou dos clipes que você vai fazendo, ele vai interpretando o seu gosto e vai incluindo novos artistas de acordo com este gênero na lista, e dependendo da classificação que você dá para o artista, ele pode fazer com que venham mais clipes deste artista na seleção. E o melhor de tudo, pásmem... é que isso realmente funciona.

Abaixo tem dois videozinhos que sairam dessa parceria de Yahoo! e Pepsi.
O primeiro vídeo é do Sr. Gavin Rossdale tocando "Don't dream ist's over" do "Crowded House".



E a segunda é um pouquinho mais antiga, de uma banda recente que eu particularmente adoro, talvez seja por causa do vocal feminino: Flyleaf tocando "Smells like teen spirit" do "Nirvana".



Correndo por fora, mas não menos importante por isso vem o AOL, que com certeza passou a ser muito mais conceituado depois que mudou a filosofia dos seus serviços entrando para o ramo de serviços gratuitos. Este provedor encerrou as suas atividades no Brasil já algum tempo, vendendo a carteira de clientes para o provedor Terra. Atualmente ele é um provedor que concentra suas atividades unicamente nos Estados Unidos. Quem quiser conferir, é só clicar entrar no AOL Music e localizar o seu artista preferido. A AOL também chama alguns artistas em estúdio, porém, para tocarem a sua música própria, e parece que é tudo feita por conta do provedor, pois não existe parceria com nenhuma outra marca. Mas acredito que seja desnecessário, visto que o provedor é controlado pela todo poderoso grupo Time Warner.

Mas é isso aí... Quem quiser conferir... Se arrisquem, pois vale a pena.

Abraços.

segunda-feira, junho 09, 2008

Inspiração e Bukowski

Em uma segunda-feira triste e ensoralada, me faltam um meio, um suspiro de inspiração, uma vontade louca de fazer as coisas e colocar os meus projetos em prática. Mas por quê? Não sei ao certo, e nessa busca descontinuada em inspirar meus dejetos alusivos, eis que encontro, perdido em meu HD, um textinho do senhor Charles Bukowsi... Ahhh nada poderia ter me feito começar melhor o meu dia.

Confissão
(Charles Bukowski)

esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama

sinto muita pena de
minha mulher

ela vai ver este
corpo
rijo e
branco

vai sacudi-lo e
talvez
sacudi-lo de novo:

“Henry!”

e Henry não vai
responder.

não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.

no entanto,
eu quero que ela
saiba
que dormir
todas as noites
a seu lado

e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas

e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora
ser ditas:

eu
te amo.

Ofertas do dia: Livros Bukowski, Impressora HP e Samsung, Celular Samsung, Smartphone.

quinta-feira, junho 05, 2008

Ela e ele

Ela gosta de futebol e tem espasmos esquisitos (ou seriam distúrbios psíquicos?) quando seu time entra em campo. Quando o time não “rende” conforme o esperado então, sai de baixo, num dia desses atirou o vaso de pimenteiras Dele pela janela. Já Ele não entende como se avalia o rendimento de um time de futebol. Vários homens correndo atrás de um mesmo objeto cilíndrico que representa nada. Somente um objeto... Sem início e sem fim.

Ao contrário Dela, Ele não gosta de futebol, prefere comer bananas enquanto Ela ri e chora em frente à televisão. Ele só acha que o mundo é um grande cu cheio de calos e é habitado por pregas.

Ela não tem bom gosto literário, apesar de ler livros com certa voracidade, já que lê um livro bem mais rápido do que Ele. O problema são os livros. Ele definitivamente tem problemas com os títulos que Ela lê, mas os tolera.

Ele, apesar de dizer ter um gosto mais apurado para leitura, não gosta de livros extensos, prefere os que tem gravuras. Absorve somente as imagens. Letras não lhe entram na cabeça. Deve ser algum tipo de disfunção juvenil mal curada, ou o hábito cultivado de analisar revistas de mulher pelada.

Ela come compulsivamente, balas, doces e, por incrível que pareça, horti-fruti-granjeiros. Acha que estes últimos lhe dão mais energia, e, segundo Ela, comê-los é uma maneira de manter os contornos impecáveis, todos.

Ele não gosta de plantas, prefere frituras e elementos em forma líquida. Bebe cerveja para limpar o estômago.

Ela gosta de viajar e mudar de trajetos. Fala pelos cotovelos, adormece facilmente enquanto Ele fala sobre filosofias baratas e questiona o fato de estar desempregado já há um bom tempo. Acordam brigando, pois Ele acha que Ela não dá muita importância para o que Ele fala. No final Ela o agride verbalmente, porque acha que escutá-lo é uma grande perda de tempo, já que Ele reclama demais.

Ele entende cada dobrinha do corpo Dela, cada segredinho sujo que se aninha em seus cachos, conhece cada arroto desconjuntado.

Ela se perde com frequência, e se contenta em passar a mão nos cabelos ralos que Ele ainda tem na cabeça.

Ela o ama, apesar de todas as causas infantis e sem sentido defendidas por Ele.
Ele a odeia de uma maneira sutil e apaixonada.

Ele acha que as cores são o reflexo do momento, e interpreta as cores. Ela acha que as cores existem para que o cinza não domine o mundo. Já imaginou um mundo dominado pelo cinza? Pra Ela cultivar pensamentos sob este céu cinza já está de bom tamanho, o mundo deveria ser pintado de vez com cores vivas. Gosta das cores, mas não as analisa como Ele, acha coisa de desocupado.

Remédios para gripe: Ele os odeia, Ela os toma com frequência... Prevenção.

Ela adora trepar sem camisinha, Ele acha que isto é um absurdo pois uma gravidez indesejada seria inconcebível, como uma criança, até então imaginária, iria comer? E Ela acha um absurdo que Ele nunca ter ouvido falar em anticoncepcional. Pra Ela não existe nada melhor do que sentir aquele líquido espesso e quente depositado em seu ventre.

Ele é chato, Ela é pedante.
Ele é ranzinza, Ela é azul.
Ele é absurdo, Ela é fantasia.
Ela é leite em pó, dentes, rugas e bem querer...
Ele é álcool etílico, lábios, analogias e por que querer?

Ela é pronome... Ele também!


Ofertas do dia: CD Staind, Sony Reflex 10.2MP, Athlon X2, Notebook HP.

quarta-feira, junho 04, 2008

1,99 - Um supermercado que vende palavras


Quantas palavras você poderia comprar em um dia? De um lado, um seleto grupo de pessoas que pode entrar em um lugar limpo e alvo que vende palavras pela bagatela de 1,99. Do outro, pessoas confusas que andam desconexamente em meio a pneus velhos enquanto celulares tocam para transmitir notícias.

Falta do que dizer, incoerência, desilusão? O que te levaria a comprar algumas palavras? Por que você as compraria? Um lugar simples, do qual ninguém consegue sair. Imagine neste lugar, caminhando juntos: o desejo, a angústia, e a compulsão pelo ato da compra. Quem você acompanharia? Por quê?

Melhor cena: Dois rapazes indecisos sobre qual palavra comprar, e, após pegar algumas delas e em seguida devolvê-las para a prateleira, eles optam por 'levar' a palavra: Único. Só que logo em seguida o rapaz das prateleiras vem e coloca uma outra caixinha vendendo a mesma coisa, que neste caso, não era única, pois não se tratava de nada mais que uma simples palavra sem significado de contexto.

Sem diálogos, olhares, sorrisos e destemperos guiam a trama. Por incrível que pareça, este filme existe para ser comprado pela singela bagatela de 29,90. Acredito que fazer filme independente no Brasil atualmente não seja lá uma tarefa das mais fáceis. Mas eu não sou tão cult ao ponto de considerar este filme bom. Na verdade 1h10m olhando para um cenário onde todos os atendetes, paredes e caixas são brancas me deixou um pouquinho enjoado. Não sei, mas definitivamente minha mente não conseguiu acompanhar muito bem o enredo deste filme. O mais legal do filme é o título. Confesso que baixei-o somente por causa do título. Mas não foi algo que me apeteceu as idéias.

Ofertas do dia: Nokia N-95, DVDs, PlayStation3, Nintendo Wii.

segunda-feira, junho 02, 2008

O menino Calvin



Todos nós temos um pouco daquela síndrome de "Peter Pan", aquela vontade doida de voltar a ser criança e deixar as preocupações de lado. Esquecer que a Terra gira e que esse movimento desenfreado de translação e rotação nos deixa mais velhos a cada segundo. Bill Watterson foi uma nobre pessoa que conseguiu transmitir de maneira sutil a beleza da infância. Todos nós temos uma bela imagem da infância, quem aqui não tem uma imagem congelada que será sempre guardada conosco, independente do tempo e da idade que tivermos?

Aquela manhã fria de agosto em que acordamos gripados e vovó fazia um chocolate quente pra esquentar nossos narizes gelados. O melhor da gripe era perder um dia de aula, ficar em casa assitindo "sessão da tarde" e ficar brincando a tarde inteira no quintal, para no início da noite mamãe ficar dizendo que a tal gripe era fingimento e desculpa para não irmos à aula, porque doente não fazia arte e não pulava que nem cabrito.

A imagem das peladas na rua, dos meninos pequenos, que hoje, assim como eu, também cresceram. Eu vivia sem o tampo do dedão direito. Eu não era um perna de pau, mas também não era um grande craque. E quem sofria nessas horas era o bendito tampão do dedo direito. Sim, tinha que ser o direito, porque eu era destro, hoje em dia eu chuto bem com as duas pernas, acho que foi devido a este fato, como eu não conseguia mais chutar com o pé direito, porque o dedão, que a esta altura estava na carne viva, não permitia um chute descente.

Os desenhos animados, os brinquedos de plástico, os cigarrinhos de chocolate e as jujubas que eu pedia pro meu pai quando íamos na padaria comprar pão. Os álbuns de figurinha. E os tapas. Ahhh os tapas... Como doíam. Machucavam-me a alma. Hoje em dia não sinto remorso algum dos tapas que levei, acho que até me foram útil em algum momento da minha vida.

Depois que conheci Calvin fiquei com vontade de voltar a ser criança. Aquele comichão doido de relembrar tudo o que eu fiz, quando as únicas preocupações que eu tinha na época eram os deveres de casa e os trabalhinhos sobre repetir eletronicamente letrinhas em um caderninho para treinar a caligrafia e aprender o beabá.

Calvin e o seu grande amigo de pelúcia Haroldo. Um tigre que só ganha vida quando não tem ninguém por perto. Bill Watterson não poderia ter encontrado um personagem melhor para transmitir a mágica experiência da infância.

Quem não conhece, sinta-se à vontade para ingressar no mágico mundo de Calvin e Haroldo, porque definitivamente. Vale a pena. Pois a mágica trajetória da infância não reacontece com muita frequência.

Oferta do dia: Calvin e Haroldo.

Outra dica bacana pra quem não conhece o Calvin e o Haroldo é o blog "Depósito do Calvin".

::: Hibernação - (in)Cultura e (de)formação

Há algum tempo esta quadra estava esquecida, meio abandonada, foi deixada de lado por seu habitante. Porém, após uma licitação pública, a quadra acaba de ser incluída no projeto de revitalização da cidade.

Passeie por onde quiser, entre nos becos e nas muretas escondidas, sacuda aqueles sonhos que estavam em cima da sarjeta, pegue um pedacinho do céu e deixe-o derreter no céu-da-boca. Acompanhe a informação. Sinta-se à vontade para ir e vir a hora e no tempo que bem entender. Não existem portas, pegue um ônibus, sente-se no fundão, coloque o mp3 player nos ouvidos e curta a viagem... Não tenha pressa para voltar pra casa. Pois você está em casa... Sob um céu cor de caramelo... Sob meia lua aprisionada em uma cesta de basquete na quadra vizinha... Acorde... Respire fundo... Sinta o cheiro! Qual foi sua sensação?

Respire fundo novamente, sinta o ar fresco invadindo seus pulmões. Abra os olhos...
E seja bem vindo.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Há alguns meses venho trabalhando em um emprego noturno... Um belo dia minha menina foi ao meu encontro me fazer companhia enquanto eu destrinchava tabelas "html". Minha menina me foi uma companhia silenciosa... Pegou meu bloco de anotações e escreveu algo que eu não sabia o que de fato era... Hoje em meu horário de almoço resolvi arrumar minha bagunça e descobri o que minha menina escrevera de fato... Gostei do que li, e então tomei a liberdade de publicar minha menina e reproduzir em um pequeno espaço o que de fato se tornou o silêncio de sua companhia... Beijos para você menina :o***

::: Sem Título

Mas o que vejo surgindo? Não sei; são passos que ouço? Talvez.
E a claridade que se opõe aos berros do escuro despacham os (pinguinhos) pontos coloridos que brincavam a minha frente. E eu enxergo com medo o que vem lá de longe: são grandes e pesados, em conjuntos combinados. Eu quero correr mas meus pés pés andam de encontro. Caio de joelhos e tombo minha consciência, assim não sinto o que vivo. Assim vivo sem sentir.

A sete léguas do que foi acordo pensando que já se foi e flutuo lentamente pelo campo de tulipas negras, pousando sobre o girasol. Ouço passos? Talvez. E tudo começa outra vez. Como um dia após outro.

Escrito por N. em 24/10/2007
Iria escrever o nome, mas depois fiquei pensando... Pra que nomes em um espaço de iniciais? - "otrobejoprocê" :o*