sábado, outubro 29, 2005



A porta da rua é a serventia da casa... Quando não se tem o que se gosta, quando não se consegue o que nunca se pode ter... Por favor, não faça doce, pegue suas coisas e saia pela porta da frente enquanto ainda é tempo, enquanto ainda há tempo... Enquanto a porta da rua te serve o amanhã recheado de brioches e café com creme... Enquanto o cheiro de naftalina ainda não impregnou as tuas roupas... Enquanto tudo não passa ainda... De Saudade...

sábado, outubro 22, 2005

Um desses tem ciscos de lamúrias no canto dos olhos, seu falar, mesmo quieto, rebaixa o ânimo de todos. Já estou cansado de esperar a juventude, disse dessa sina. Nasceu com uma idade sem fome, permaneceu sem vento ou chuva, desde sempre existe num lugar que secou o tempo. Era vísivel como gostava de conversar comigo. Evitava, mas qualquer bobice que eu escorregava, tinha moradia em sua admiração. Fui salvo pelo canto desafinado da gordinha que fazia parte do grupelho. Era uma gordinha cantora e portuguesa, ou seja, das primeiras vezes, quase a pedi em casamento tamanha emoção, mas depois, cansava-me o vocabulário sempre refém da saudade. E ela percebeu meu desdém. Perguntou-me, como quem denunciava-me de insensível, se eu não sentia saudade. Não, eu sinto sede. A portuguesinha calou-se implorando piedade. Não faltei com a verdade. Se a senhoritinha começar a chorar aqui eu vou te por no olho da rua, recebi o aviso de despejo do tio Bambo. Fiquei aflito com o risco de cegar ao relento a qualquer lágrima da gordinha de Lisboa. Dependi da sua dor. Num rompante, descruzei os braços e sentei ao lado do senhor sem idade. Você não sente falta de comemorar aniversário, perguntei, apenas para mudar o vazio da prosa. Vai ter torta de morango no meu enterro, respondeu, juntando alguma felicidade.


R. Gontijo, depois do anoitecer... as idéias se transformam em lâminas afiadas de bem-querer... E a vontade se perturba em rosas mal-cheirosas de um querer-ver-me-ver...

sexta-feira, outubro 21, 2005

::: ORKUT e a banalização dos bate-papos de internet...

Me lembro quando eu tinha meus 15/16 anos, entrava naquelas salas de bate-papo e conversava por horas à fio com desconhecidos sem nome, sem rosto, sem gosto, com idéias e sentimentos e nada mais, posso dizer que até fiz alguns amigos assim. Hoje em dia o que se vê é um monte de gente em um blog pessoal com fotos e descrições pessoais a respeito de si mesmo. O interessante é que nada diz a respeito do que aquela pessoa realmente é, como ela reage diante de sentimentos e sensações adversas, nada conta nada à respeito de alguém.

A verdade é que não entendo como conseguem, acho tão chato falar na primeira pessoa do singular, acho tão chato ter que poupar o tempo dos outros, contando pra eles quem eu sou, o que eu sou, do que eu gosto e etc... Prefiro deixar que eles descubram por si próprios quem é Rogério Gontijo. Quem não tiver paciência pra descobrir, com certeza não há de ter paciência pra entrar em minha vida.

Mas voltando ao assunto das salas de bate-papo, esses dias atrás eu tentei começar algumas conversas com desconhecidos da internet, as únicas perguntas que eu ouvi foram: 'Oi, tc de onde', 'Como você é', 'Você tem foto', 'Você tem MSN' - Não sei, mas o que foi que aconteceu com os assuntos legais, ora, se o nome diz, salas de bate-papo, qual o mal de bater um papo? E o pior de tudo, homem não conversa com homem e mulher não conversa com mulher, são raras as exceções. Acho que hoje em dia todo mundo entra em salas de bate-papo, em orkut, em MSN e o escambau a quatro pra procurar um romance, um affair, alguma coisa parecida com isso. A coisa se banalizou a tal ponto que é normal ver adolescentes marcando encontros em salas de bate-papo, conversando bobagens do tipo: 'To afim de beijar a sua boca', 'Gostaria de encontrar você em uma sala mais reservada', beleza, nada contra, mas o que será que aconteceu com aquela coisa de sair, conhecer gente, tomar 'golo' com os amigos, tentar conquistar aquela mocinha porque ela tem um jeitinho meigo de te olhar nos olhos, ou sei lá por qual motivo.

O mundo realmente anda depressa demais. E as pessoas que vão caminhando com ele, que enxergam os cabelos ficarem brancos, que enxergam as rugas do tempo, que realmente se sentem ameaçados de alguma forma pelas mudanças repentinas desta coisa gigantesca nas cores azul com manchas esbranquiçadas e meio esverdeadas, porém uma coisa não muda, no meu tempo ou no seu, ela continua... Redonda...

Pegando mais um pouquinho no pé do ORKUT, se preferirem, podemos chamá-lo de IOGURT (assim mesmo, com 'Tê' mudo pra não avacalhar com o estrangeirismo da palavra), pois é praticamente impossível adicionar alguém na sua lista de amigos que você não conheça, ou seja seus amigos virtuais geralmente são seus amigos de carne e osso... Caso você tenha uma lista gigantesca, provavelmente você é bonito ou famoso, ou tem um papo legal... Tem gente que eu não conheço que realmente já me adicionou, mas simplesmente nunca respondeu as minhas mensagens, simplesmente fingem que eu não existo, qual a importância de se ter uma lista gigantesca de amigos se você simplesmente não quer ou não consegue conversar com nenhum deles?

A internet ficou chata ou será que eu é que fiquei rabugento? Não importa, o que importa é que eu em minha velhice internética estou de saco cheio dessa cara jovem dessa coisa 'cult' que se transformou a internet...

Tem coisas que são complicadas demais pra entrar na minha cabecinha... Talvez oca, talvez não, talvez velha demais, talvez esquisita demais... Mas pelo menos a Terra ainda continua... Redonda...

terça-feira, outubro 11, 2005

E um certo dia me perguntaram: 'Não entendi, o que foi que você quis dizer com esse seu texto?'. Ora, por que sempre tem que se dizer alguma coisa? Nada contra quem gosta de ler as 'onopatopéicas' formas de comunicação existencialistas, nada contra as seduções 'linguajeiras' de Sartre, nada contra quem lê as depurações retóricas de Nietzsche. Nada contra nada, mas acho estranho me falarem: 'Você utiliza palavrões chulos demais em seus textos'. Tá certo. Nada contra, mas ainda sou da teoria, você só comenta alguma coisa a respeito sobre o texto de alguém, quando você realmente tem algo para comentar. 'Seu texto não tem nem sequer mensagens subliminares'. Tá certo, isso quem disse foi você, não quer dizer que não tenha. E isso pra mim é discurso de bicha virgem. Lê as entrelinhas quem simplesmente sabe lê-las. Encontre sentido pra mim no texto JAGUADARTE de Lewis Carroll:

JAGUADARTE

(Lewis Carroll, 1865)

Era briluz. As lesmolivas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!

Ele arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo.
Na árvore Tam tam ele afinal
Parou, um dia, sonilundo.


E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, olho de fogo,
Sorrefiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem,vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta, e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!
Ele se ria jubileu.

Era briluz. As lesmolivas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.


E olha que o cara escreveu um dos livros mais subliminares do mundo... Aposta-me as tuas 'subliminariedades' neste texto, meu caro...

É verdade, você pode até não gostar do tipo de texto que eu escrevo, mas a verdade é que só se deve argumentar a respeito de alguma coisa quando realmente se tem algo para se argumentar, linguajar chulo, mensagem subliminar simplesmente não funciona no meu discurso.

Enquanto isso, sigo usando as analogias, bocetinha úmida, dedo médio enrijecido, o que argumentar do mundo enquanto ele se constrói em cima duma pistola de plástico, foda-se a linguagem enquanto as formas de comunicação simplesmente forem débeis e estreitas demais... Que cantem a marcha fúnebre, que me seduzam as putas e o orvalho da noite...

Enquanto isso você que procure suas mensagens subliminares na bíblia... Lá tem um monte...

Enquanto isso eu sigo, você se esquece de acontecer... Enquanto isso eu bebo, e você tenta encontrar uma análise pitoresca sobre a fórmula química da cerveja...

Enquanto isso eu escrevo, e você analisa o que se diz com as palavras mal acabadas de gente que nem sequer sabe dialogar...

Me dê um argumento, me dê um esquecimento, me dê um cigarro que a gente senta pra conversar... Enquanto isso você continua no seu monólogo mal feito de cristão mal resolvido... E olha, por favor, sexo só depois do casamento. Com certeza isso só pode ser porra que sobe pra cabeça... (Pra que você não me chame de chulo mais uma vez, entende-se por porra, aquele líquido viscoso que vocês chamam de sêmen, coisa que os cristãos usam pra procriação e eu uso como cosmético pra peles femininas, com certeza, muito bom pra pele).

E assim tenho dito...
Eles falam,
Vós Falais,
Nós falamos,
Ele fala,
Tu falas,
Eu não consinto...

domingo, outubro 09, 2005

Tá antes de mais nada, para os desavisados, quero esclarecer que não sou ateu, não sou anticristo, não sou anti-coisa-alguma, mas sabe como é, é sempre bom esclarecer as coisas antes que as pessoas te detonem com comentários ferrenhos de ordem religiosa... Escrever tem dessas coisas, nem tudo o que se escreve é necessariamente uma verdade, e obrigatoriamente é uma mentira travestida de realidade... Mas se as explicação não resolvem porra nenhuma... Bem... me desculpem, mas, que se fodam os ofendidos...



::: E assim se fez o mundo

Deusdete era um menino muito travesso, vivia isolado em um país de gigantes. Morava naquele mesmo país que o menino do pé de feijão foi conhecer.

Fico pensando, se o tal ministro responsável pelo turismo daquele lugar fizesse uma propaganda na REDE GLOBO, em horário nobre, diga-se de passagem, será que se assim fosse, o tal país dos gigantes seria mais conhecido e visitado que a Disney World?

Mas não percamos o foco de nossa história, voltemos as travessuras do menino Deusdete - ruivinho, com sardas no rosto, apelidado de melequinha cor-de-fogo pelos coleguinhas (é que Deusdete tinha a mal-educada mania de ficar tirando muco do nariz durante as aulas de álgebra curvilínea) - e de Deus pelos parentes mais próximos.

Deus não tinha grandes pretensões na vida, queria ser jogador de futebol, enriquecer facilmente, mesmo sendo um perna de pau, e mais tarde, quando estivesse em fim de carreira, depois de ser pego no exame anti-dopin, posar nu para alguma revista gay e no final das contas dizer que a dinheirama pouco importava, havia feito aquilo por causa da arte.

Deus tinha o sonho de morrer velho e obeso, assistindo novela das oito e se lamentando das coisas que ele deixou de fazer durante a juventude.

Para os pais, Deus era considerado um problema social, menino arredio, de temperamento explosivo, fugiu de casa aos dezesseis. Cresceu nas ruas vendo a triste realidade do seu tempo, deixou de lado a porra daquela coisa que chamam de sonho e começou a trabalhar para se sustentar. Depois de vender bala no sinal, água mineral geladinha, depois de fazer malabarismo (precisou sair do ramo, porque começou a ficar concorrido demais), foi engraxate, segurança de puteiro, gigolô, canalha e bicheiro, resolveu começar a trabalhar com carteira assinada, foi aí que ele descobriu que a profissão mais antiga no mundo não era a das putas, e sim, a dos trocadores de ônibus, deixou o bigodinho crescer e o caralho a quatro, desistiu logo da idéia quando recebeu o seu primeiro contra-cheque. Foi pra avenida larga fazer programa, chupava paus a troco das moedas que os fregueses da padaria deixavam no balcão. Cansou de tentar ser honesto, virou traficante. Conheceu uma puta local e a engravidou, antes descobriu que adquiriu gonorréia e então, aos exatos vinte e dois, virou pai. Sua mulher, agora ex-prostituta, deu a luz a um anão.

Deus não era muito bom com essa coisa de dar nome para as coisas, como traficante só conhecia nome de arma, teve a brilhante idéia de olhar para o lado, quarto 'G', bem, quarto ge, num hospital do SUS, daí a origem do nome GêSUS, que com o passar do tempo foi sendo chamado mesmo é de Jesus (podemos pular a parte da 'transmutação' lingüística da palavra em questão, já que ela é dispensável e chata).

O tempo foi passando e o beco que era de Deus foi ficando cobiçado demais pelos outros traficantes, e então, Deus, zelando pela integridade física do seu único rebento, mandou seu filho-anão pra Terra dos homens.

Na Terra dos homens, Jesus não era anão, era uma pessoa comum, do tamanho de todo mundo, mas, infelizmente, por aqui ele criou um monte de histórias, disse que andava pela água, que multiplicava peixes, que transformava água em vinho e vivia disso, cobrava cachê e tudo mais. Quando os contratantes começaram a descobrir que Jesus era ilusionista e que tudo não passava de truque, mandaram prender o pobre coitado, ele foi espancado, mutilado e recebeu a maior pena da época, a pena de morte.

A verdade é que se fosse nos dias de hoje Jesus seria uma grande estrela, seria rico, teria um monte de mulher e uma quantidade enorme de bens matérias, seria hoje, um homem de negócios. Nada como nascer no tempo certo. 'TUDO TEM SUA HORA' - e assim disse Jesus.

Deus hoje em dia abandonou o tráfico, vive somente com os direitos autorais do livro que seu filho escreveu, O LIVRO SAGRADO, que tinha o nome de 'As Travessuras de Jesus na Terra dos homens', mas com o passar do tempo os editores acharam que o nome não caia bem, e resolveram mudar o nome do livro que conhecemos hoje... E assim se foi Jesus, o filho de Deus com uma prostituta.

terça-feira, outubro 04, 2005



Tempo é uma ampulheta de vento que mede clandestinamente as vozes e os horrores do descaso, com o acaso me desfaço em versos ingratos pela milésima vez.
A incompetência e a incostância do tempo, e o meu descaso com o fato deu querer ser correto me seduz para o contrário desfecho do ser um esbelto mal feito no ventre ensopado de vermes de MIMI.

MIMI é a minha vaca. Tenho horas de prazer com minhas vacas. Canto estórias, conto estrelas, pinto com colheres a ração barata, coloro com fumaça o ar transparentemente opaco.

Tenho amores, tenho galinhas, moro em uma fazendinha num planeta distante, onde o pequeno príncipe é o meu vizinho, onde o E.T. de varginha é o entregador de leite, onde Chupa-Cabras é uma putinha especialista na arte de mamar nas tetas de minhas vaquinhas premiadas.

Aqui não tem água, as plantas crescem com urina rosa, coloridas com tinta óleo e meu patrimônio se torna líquido como... letras e números que me escorrem entre os dedos.

Entre arranha-céus de aranhas armadeiras...
Entre paredes fora de foco...
Entre fotografias que pintamos em nossas retinas...