sábado, junho 14, 2008

Horários e fusos

As doze horas e zero minutos Arnaldo está sentado no vaso sanitário do banheiro da empresa, uma forcinha para entender irremediavelmente o motivo pelo qual os seus colegas de seção passaram a ignorá-lo sem motivo. Talvez não haja de fato um motivo, talvez seja Fívio que tenha plantado a semente da discórdia entre os colegas da seção, na última quinta haviam travado uma pequena discussão sobre política.

As doze horas e quinze minutos Arnaldo pensa que os picotes dos papéis higiênicos estão maiores, antigamente os quadradinho picotados (que somados formavam o gigante rolo de 30 metros) eram menores e mais fáceis de serem destacados. Por que a empresa não comprava um papel decente? Trabalhar tinha que ser algo bastante prazeroso, mas não o era, pelo menos não na empresa em que ele trabalhava... E nem no banheiro ele se esquecia da dor do trabalho. Acreditava piamente que o papel ruim era proposital, e não tinha nada a ver com economia feita pelo departamento de compras. Nessas horas lembrava-se de alguns de seus colegas que eram delicados demais. Como será que eles se limpavam com aquilo? Arnaldo ficou imaginando caras contorcidas esfregando um pedaço de papel no rabo... Uma cena um tanto quanto engraçada de se imaginar.

As doze horas e vinte e cinco minutos tentou lavar as mãos na pia, não havia água, um problema na tubulação da empresa fez com que a água fosse desligada naquele dia para que o suposto encanador pudesse fazer os reparos necessários. Não lavou as mãos.

As doze e quarenta sentou-se na frente do computador para teclar com uma (des)conhecida que havia 'conhecido' em um destes sites de relacionamentos. Digita daqui, digita de lá, um sorrisinho bobo no canto dos lábios, ajeita a pança dentro da calça jeans apertada, mexe com os pés daqui, cruza-os outrora, curva-se pra frente pra poder ficar mais próximo do monitor (como se não estivesse enxergando nada do que estava ali digitando), ajeita um pouco a curvatura errada da coluna, outro sorrisinho bobo.

As doze e cinqüenta e sete Fívio, Adalberto, Marcaurélio e Tício retornam para o departamento... Estavam retornando do almoço. Entraram fazendo um estardalhaço, quando viram que Arnaldo se encontrava sentado-curvado-amontoado na cadeira... Silêncio... Shiiiii... - A essa altura a conversa animada de Arnaldo com sua conhecida já havia ficado de lado.

Arnaldo tinha vontade de perguntar o motivo do silêncio, o que tinha ocorrido de tão grave para que todos passassem a ignorá-lo escrachadamente. Mas respirou fundo e definitivamente desistiu da idéia.

As treze e trinta e dois adentrou-se na sala uma linda funcionária do departamento financeiro. Pediu licença com uma voz açucarada e informou que estava ali para usar a copiadora. Todos, sem exceção consentiram com a cabeça e puseram-se à disposição para quaisquer dúvidas/reclamações/sugestões/atendimentos/auxílio necessários.

Marcaurélio estava fazendo pose de chefe da seção, pedia um relatório daqui, um relatório de lá, enfim, as treze horas e cinqüenta e cinco minutos Arnaldo resolveu se levantar para beber um copo d'água na cozinha. Marcaurélio sem pestanejar perguntou onde sua graça ia, informação que Arnaldo lhe transmitiu solicitamente informando o seu destino. Aproveitando a deixa, Marcaurélio resolveu exigir que lhe fosse trazido um copo com água. Arnaldo consentiu com a cabeça.

Na cozinha encheu o copo prontamente, e, para demonstrar ser um bom colega de trabalho (sendo que não devia nenhuma obrigação à Marcaurélio, pois este não era o seu superior) colocou duas pedras de gelo e resolveu remexe-las no copo com o dedo indicador, uma cena um tanto quanto inocente perante os olhos de Arnaldo.

Entrou novamente na seção e entregou o copo a Marcaurélio que deu uma longa golada na água... “Poxa, esta está geladaça, mas está com um gosto estranho esta água, será que é por causa do rapaz que está mexendo no encanamento?”

A moça bonita resolveu pedir um gole da água do Marcaurélio, não entendi, mas o pediu com uma carinha bem safada (como se precisasse ele não iria negar-lhe um gole nem em mil anos, e você acha que ele ia perder a oportunidade de deixar a tal beldade encostar os lábios carnudos na borba do copo?).

As quatorze e doze a moça bebeu na fonte e logo em seguida, quando a língua sentiu o 'gosto' da água insípida, que na verdade não era tão insípida assim, logo esbravejou - “Esta água está com gosto de merrrrddaaa!!” - E todos já olharam pra mim, Marcaurélio levantou e veio tirar satisfação. - “Tu tá de onda comigo seu bosta? Tá pensando o que? Agora tu vai apanhar!” E cumpriu sua ameaça dando em Arnaldo um pontapé na canela. Porém, este, por fim, retribuiu a carícia com um soco certeiro na ponta do nariz, o que fez com que a cara de Marcaurélio fosse coberta por um líquido melado e vermelho.

“Tu me quebrou o nariz, caralho... Tu me fez sangrar seu filho duma puta...”.

A Beldade, que obviamente não iria ficar ao lado de Arnaldo, resolveu sair em apoio a Marcaurélio, pois, conforme vocês notaram ela havia dado uma bicada no copo d´água remexido com o dedo de merda de Arnaldo. “Vai gente, pega alguma coisa pra limpar o sangue!”.

Alguns minutos depois lá me vem Fívio com o rolo de papel 'lixa cu' nas mãos... E se dispuseram três pessoas a esfregar gentilmente o papel na cara de Marcaurélio... Não sei muito bem o que ocorreu, mas sei que no fim das contas o nariz do dito cujo não chegou a quebrar...

No fim de toda a história Arnaldo não chegou a ser demitido, mas adorava ver o resultado da confusão depois que tudo se aquietou, o papel higiênico fez um grande estrago na cara do pobre coitado do Marcaurélio.

No dia seguinte a senhorita beldade, funcionária do departamento financeiro, resolveu liberar uma pequena quantia a mais para que pudesse ser comprada outra ‘espécime’ de papel higiênico... Agora utilizavam papel 'Extra soft' para limpar a bunda...