quinta-feira, maio 10, 2007


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"Acordam os temporais quando esqueço que a verdade é não esquecer. E quando a torre bate seis, por entre sete dedos dourados brotam minguantes folhas de hortelã. Hora para ver os roseirais e te levar para casa. E cheirar no seu hálito o gosto forte do meu primeiro sêmen da manhã. Se sua irmã soubesse com quem brincou a noite inteira.

A tarde, o domingo e a beirada de um precipício cheio de peixes dourados é água salgada, em cima da grama nossas bundas, as formigas e o seu olhar atravessando meu filtro solar. E mais alto, sem ninguém ver, gaivotas vermelhas menstruam sobre os roseirais a colheita de amanhã. Acontece quando não esperamos.

O que você tem para me dizer que tanto espera?

Um pouco cansado de repetir palavras inalterarando a ordem das frases. Não fui programado para esperar nem para sofrer paixões voluntárias. Cada apaixonar me aprisiona em um 'stand by' eterno pelo ser enamorado. Guardo todos e não ouso jogar fora nenhum. Não me disseram como apagar paixões, nem eu quero aprender. Sou só uma putinha e nada do que falo cabe para mim. Perco um tempo tentando entender como as pessoas sustentam o dia mantendo alguma sanidade. Como contam as horas até o anoitecer? E, quando finalmente anoitece, onde seria lógico estar até a próxima manhã, antes de ver os roseirais enfeitando o fundo da paisagem onde seu rosto repousa na contra luz da janela do meu carro às seis horas de um verão parado no
tempo. Ainda sinto o cheiro do meu sêmen a cada suspiro seu. Ainda sinto o vento quente bagunçando meus cabelos. Seque-me, ou rache em minha cabeça a garrafa de champanhe que você esconde para o próximo reveillon.
Doze ondas ou um desejo realizado?

Enquanto isso tatuo nos braços espirais de palavras em vermelho só para te contar mais uma história que nunca viví. Confundo o passado na memória real e fica ainda mais difícil distinguir o fato da imaginação. Não sei se o que lembro aconteceu. O tempo que leva para gastar um sabonete. A medida e a desmedida. A batalha, o jogo e a luta interminável entre os opostos. A agonia. Um ideal impossível contrariando inabalável o cotidiano. Todo dia. E eis que nasce a tragédia!

Pesadelos acordam quando esquecemos de trancar o portão que leva à fonte do esquecimento. Vamos lá, não beba dessa água.".


Este texto foi encontrado em um antigo e-mail enviado em 2004 a uma amiga que mora na França, no e-mail não encontrei a autoria do texto, não é meu pois não me lembro de ter escrito isso, definitivamente não me lembro definitivamente da autoria...