domingo, abril 01, 2007


Em cada parede um gemido diferente, um momento inconstante, em cada nervura de tinta, um poema seduzido pela cor do mofo fluorescente.

Em cada porta um caminho diferente, uma hipótese de passos e pernas, mãos e abraços, uma história da qual se desconhece a autoria, se desconhece a verdade, se desconhece por inteiro a vivacidade.

Ironias e mentiras se soltam do teto como placas de cimento armado. Buraco por onde as folhas se permitiram entrar nos mais variados outonos e outubros amarelos. As janelas esquecidas pela vaidade da monofonia sussurrada por vestidos decadentes de armações de arame farpado.

Fôlego... Respira-se um ar carregado de saudade, carregado de um passado distante do presente enferrujado. Longe das sombras e da escuridão que se tornaram hóspedes já há algumas décadas. Poucas linhas para representar guerras, pestes, incumbências do amor e dos dias úmidos. Poucas linhas para representar a velhice que corrói o tempo.

Cada cisco de poeira é uma semente não germinada dos sonhos residentes do silêncio. A solidão que se ecoa no respiro e respingos das lágrimas que procuram desassossego.

Alguns sonhos foram deixados para trás, foram seduzidos pelo tempo, e ali permaneceram, embalados pelos silêncio das horas intermináveis, guardados pela poeira inerte, e pelo semblante despreocupado das folhas retorcidas nervosamente pela solidão dos gelados verões eternizados por um borrão de tinta guache...

... Fôlego...
... Ar...
... Desassossego...