sábado, abril 07, 2007

::: 'Se' permitir ter medo

Olhares raivosos te tiram a sede e a vontade de foder,
Ditam regras nervosas do que poderia e do que não poderia ser feito.

Estonteante, essa seria a palavra da vez se Miloca não fosse tão sentimentalóide e realmente não tivesse tanto medo de se acabar em cinzas bobocas à se espalhar pelo vento.

Repreendida? Amargurada? Medrosa?

A verdade é que Miloca não é estonteante, e muito menos bela, e muito menos jovem, se você me perguntar eu realmente não saberia lhe responder porque criei uma amizade tão bacana com ela, talvez pela maneira 'jeca' como ela fala das coisas.

Miloca tem medo de quase tudo, chora por qualquer coisa, mas definitivamente não tem nenhum medo de abrir a boca e falar besteira. Ela fala sem pensar o tempo todo, cheguei a pensar que era charme, mas realmente ela não pensa muito para fazer isso, é algo que soa até bastante natural, talvez por isso ninguém a repreenda.

Coleciona selos postais usados...
... Em alguns é possível ver a data do carimbo do correio, alguns datam mês 07 de 1992, outros são mais enrugados e datam da década de 80, alguns simplesmente não tem data alguma, só um pedacinho negro do carimbo, uma espécia de tarja preta. Guarda-os cuidadosamente em uma caixa de fósforos gigantes.

Perde-se ao apreciar cada selo, talvez porque somente ela e mais ninguém realmente conheça e saiba o que representa cada um deles, cada história mal contada, cada sentimento reprimido, cada grão de pó, cada hipótese pífia.

Miloca caiiiiiuuuuu de uma altura desconhecida, mas todos sabem que ela não tinha asas, deve ter surtado, colou o selo mais antigo que tinha guardado em sua caixa de fósforo no ombro direito e despencou, talvez estivesse tentando se despachar/enviar para algum lugar, mas como o serviço público é uma porcaria e a encomenda não era registrada, na caixa de correio do destinatário nada além de um aviso de mercadoria estraviada.