quinta-feira, novembro 30, 2006

Virou notícia...

Zinhazinha era um pequeno polegar que dormia em pé em cima dos radapés, pois tinha medo de ser esmagada por pés desavisados enquanto dormia de bruços nas frestas entreabertas de chãos ainda não rejuntados.

Zinhazinha tinha um lagartixa de estimação, com a qual saia para passear todos os dias, vez ou outra saia por aí voando nas costas de baratas aladas que comiam carne crua de peixes palhaços com dentes em forma de ostra.

Pequenina, Zinhazinha tinha o hábito noturno, não gostava de caminhar por residências durante o dia, a chance de ser notada era muito maior e a idéia não a agradava por completo. Olha mãe, uma formiga gigante... Mata... Mata... (Era bem maior que uma formiga, mas era muito menor que um passarinho, portanto, a chance de ser confundida com algum inseto invertebrado era bem maior).

Tinha medo de sair na rua nos dias de chuva, as piscinas d'água que se formavam nas calçadas eram assustadoras, e nas ruas os carros esmagavam água com aqueles assustadores e negros pneus de borracha, saiam por aí fazendo chuva de verão, daquelas que vem e passa, cai e seca, chove e molha, seca, molha, seca... sol... Carros filhos da puta, pareciam ter vontade própria.

Não gostava de seu nome, foi batizada por um duende que estava escorregando pelo arco-íris que passa bem detrás da retina de recém nascidos, sim, aqueles que há pouco haviam chegado no gigantesco mundo das pessoas gigantes.
Chorou bastante no dia de seu batismo, não sabe-se se sentiu alguma dor naquele dia, mas concordo que deve ter doído um pouco. Com o tempo acabou se acostumando, chamavam-na por vários nomes, menos pelo de batismo que remetia a coisas extremamente pequenas.

Não vou entrar em grandes detalhes da vida de Zinhazinha, mas adianto que sofreu bastante neste mundo cão de insetos e parasitas que não costumavam pensar muito, na semana passada foi estuprada por um pernilongo sedento, quase morreu, a quantidade de sangue no corpo daquele pequeno polegar feminino... Chegou sorrateiramente numa tarde que quase desmaiava-anoitecendo, enfiou-lhe aquela língua esquisita, alongada por um pedaço ainda mais esquisito de beiço enrijecido, o inseto beijou-a por dentro, chegou a tocar seu coração, depois de algum tempo, sentiu-se saciado (ou assustado pelos gemidos-dolorosos-estridente-inaudíveis), e foi-se, deixando para trás uma pequenina Zinhazinha dolorido-ensopada.

Tentou encontrar novamente o pernilongo, mas nunca mais o achou, queria apresentá-lo para sua lagartixa de estimação, mas nunca mais o viu. Sorte a dele. Ou a dela, não sei bem ao certo quem teve mais sorte nesta história toda.

Atualmente mora na narina esquerda do antigo gato de botas, atualmente ele mora na praia e só usa chinelos de borracha. Todos a confundem com um cotoco de meleca, mas ela não se importa, já está fazendo amigos sinceros, como o caranguejo clá clá e a ondinha shuá, já foi flertada pelo mosquito zezé, mas sua lagartixa comeu o bichinho logo no primeiro encontro, não ficou triste, depois do pernilongo ficou com o pé atrás com esses tais insetos voadores.