quarta-feira, novembro 07, 2007

A polícia veio me prender

Depois de parir três quilos de paio e cicuta, meia dúzia de não-verdades, alguns favos de boa vontade e uma boa dose de cetismo, a polícia veio me prender.

Chegaram pela porta da frente um delegado da civil, dois soldados da PM e um militante do PT. Arrombaram brutalmente a porta que estava aberta. Já entraram chutando o cachorro que dizia ser inocente e logo em seguida apontaram uma pistola para a cabeça de vovó.

A pobre coitada não sabia o que fazer, então, nessa ânsia por não querer saber nada, encheu a fralda geriátrica com meio quilo de inocência e trezentos gramas de palavras de baixo calão que haviam sido engolidas à seco.

Solicitaram (o verbo solicitar neste caso é algo parecido com uma solicitação feita sob tortura, uma quase exigência inegável) que mamãe ajudasse vovó a se trocar.

Questionei o porque da invasão, perguntei se tinham mandato para irem invadindo desta forma a minha residência. - Me mostraram o tal mandato, porém também perdi meus dois dentes da frente, não cheguei a lê-lo (o mandato) mas foi um fuzuê danado, depois desta vovô e sua muleta quase acertaram um dos milicos.

Geraldinho, meu irmão mais novo, que estava batendo sua punheta vespertina pós-almoço de domingo, chegou e foi rudemente perguntando que porra era aquela que estava acontecendo ali na sua casa.

O delegado havia começado a explicar que tinham feito uma denúncia anônima de que existia uma plantação de maconha em nossa residência.

Geraldinho questionou mais uma vez, disse que a única plantação que tinham em casa era a hortinha que ficava no quintal. Horta que foi vasculhada pela polícia, claro, não sem antes revirarem a casa de baixo para cima. Será que eles acharam que realmente tinha como haver uma plantação debaixo dos colchões da cama?

Na horta nada encontraram, só o de praxe: Cebolinha, salsinha, coentro, tomate, taioba e um pezinho de acerola que estava germinando por ali.

Vasculharam também alguns vasos de planta: Espada de São Jorge (isso é bom pra bater em menino desobediente, já fui ameaçado várias vezes com esta planta, pensei seriamente em denunciar isto para a polícia, mas fiquei com receio deles levarem isto à sério demais e levarem a minha mãe para depor na delegacia), samambaia, e uma plantinha de sei-lá-o-que-da-felicidade.

Sabe como é, polícia é treinada pra prender e dar tiro em bandido (que a gente nem sabe se são lá tão bandidos assim), não fazem a mínima idéia de que raios são aquela variedade toda de plantas.

E como era de se esperar, não acharam a tal plantação de maconha que eles tanto procuravam.

Os milicos também não queriam ir de mãos vazias para a delegacia, resolveram levar alguém para depôr.

Vovó e vovô já tinham idade avançada, minha mãe era uma senhora bastante simpática, e como ela cuidava dos meus avós, resolveram deixar a "dona" em casa mesmo. Geraldinho é menor de idade, então, acabou sobrando para eu depôr na delegacia.

Lá chegando o delegado solicitou que eu me sentasse na cadeira (por incrível que pareça até que a cadeira era confortável) e fez um monte de perguntas e piadinhas insossas.

No final das contas como eu não ri muito das piadinhas dele, acho que ele resolveu me prender por conta disto. A alegação foi: Extração ilegal de “mudas” de espécies raras da Mata Atlântica. Claro que a esta altura todas as “mudas” eram ameaçadas de extinção.

E é nessas horas que eu penso, antes eu tivesse a porra de um pé de maconha plantado no vasinho juntamente com a samambaia de mamãe. Aí pelo menos eu teria um motivo supostamente justo para ser encarcerado pela polícia.

Fui liberado dois dias depois porque precisavam de espaço na cela para colocar um sujeito barra pesada que tinha dado cabo de um caboclo homossexual, ele jurava de pé junto que o rapazinho havia tentado fazer uma chupetinha nele, e que, esta história estava enchendo o saco, pois o pessoal da vizinhança estava começando a comentar. E como ele era muito macho, resolveu abater o viadinho.

Enfim, fui solto. Não cheguei a ser molestado. Chegando em casa minha mãe me abraçou e disse que lá em casa, a partir deste dia só entrava flores artificiais. Sim, daquelas que a gente olha e vê logo de cara que são de plástico ou de um material sintético qualquer.

Desistimos da idéia quando o pessoal do IBAMA apareceu no final de semana seguinte.