terça-feira, setembro 04, 2007

A menina e a pança

Comida... Comida... Farofa, arroz, chuchu e chimarrão, guarita, queijo provolone e uma xícara de quentão, as sextas uma batida de conhaque com melagrião, aos sábados ônibus lotado rumo ao Bailão Sertanejo e um punhado de desdém na pança empanturrada de comida... comida... um punhado de sabores... Uma xícara de cheiros, temperos e sôfregos desejos e posteriormente, remorsos.

Não bebe cerveja porque seu pai tinha barriga, seu tio tinha barriga, seu avô tinha barriga, e ela, apesar de mulher, era a próxima geração da família, resolveu não arriscar pois sua mãe sempre dizia que seu pai tinha barriga porque era um pé de cana sem rumo, e que tinha puxado ao vovô que também tinha a barriguinha saliente porque era igualmente pé de cana, sabe como é... Segundo mamãe... Herança genética.

Dizia também (a mamãe) que iria gostar muito mais dele (papai) se ele fosse sarado e esbelto, se fizesse a barba todos os dias e deixasse de acordar todo santo dia com a barba mal feita e aquela cara que desenhava nada-mais-nada-menos do que aquilo que ele realmente era... Um bêbado.

Não bebia (ela e não o pai, nem a mãe), porém, comia... O suficiente para sentir culpa de ter comido e de achar que seu vício-problema era pior do que todos os vícios.

O fumante se quiser parar de fumar, ele larga o cigarro e pronto, ele não tem que fumar nunca mais. O bêbado se quiser parar de beber ele pára e não tem que beber nunca mais... Mas e eu? Que tenho a pança exaltada? Não posso deixar de comer, tenho que comer pouco e o problema é esse. COMER... Dizia que se não tivesse que comer não teria problema, seu 'vício' seria facilmente deixado de lado.

Eu, pessoa que escreve e ao mesmo tempo tenta narrar a história com os relatos que me foram passados pessoalmente - em primeira pessoa - pela própria Isa (que está sendo apresentada tardiamente à vocês), conheci a pança de Isa. Não era nada anormal demais, mas também não era algo belo de se ver. Era estranho, tinha dias que o peito de Isa sumia, a pança crescia de tal forma que o peito desaparecia naquele emaranhado de comida (doces, salgados, quitutes, porcarias do fim-de-semana, nada de bebida, Isa só comia). Tinha dias que a barriguinha de Isa parecia bem menor e todo mundo achava um absurdo ela dizer que precisava fazer regime.

Adoro (Isa) suco de tangerina e favos de mel, gosto de biscoitinho de nata e doce de abricó (pra quem não sabe, abricó é uma frutinha semelhante ao damasco, nunca comi - eu, 'escrevente' - e não posso afirmar tal semelhança, mas no dicionário dizia que sim, que as frutas são parecidas, então, simplesmente acreditei).

(Não-Escrevente) Não gosto de sexo, mas faço. Li em uma revista feminina que isso ajudava a emagrecer, pois era um ótimo exercício físico. Engoli porra uma vez, mas não gostei, achei meio amargo, e o cheiro também me deixava enjoada. Mas fazia amor de vez em quando com meu namoradinho. Depois arranjei um homem muito mais homem, pois ele era sarado.

(Agora eu - Mas Eu quem?) No final das contas, depois de tanto comer-deixar-de-comer, chupar-cuspir, mastigar-digerir... A história de Isa terminou assim, após este monte de estica e puxa Isa acabou virando bala delícia e foi amaciada pela boca de Frederico, seu professor da academia. Fred, como era conhecido por todos, adorou o sabor da 'badelícia'... O problema é que o 'docinho' não desceu muito bem... Passou a tarde de terça-feira trancafiado na baia 3 do banheiro do shopping.

Mas a culpa foi dos vermes que residiam na pança da menina que virou quitute...

.
.
.

P.S.: Eu sei que o texto ficou confuso, ora primeira, ora terceira pessoa, ora pessoa alguma, ora outrém, mas talvez a intenção tenha realmente sido esta. Fazer presença na presença de ninguém, mostrar que alguém falava enquanto outrém fingia prestar atenção na vida de alguém que narrava, presente-futuro, o passado de quem um dia chegou a querer ser mas que acabou não chegando a ser... Ou que acabou sendo porque foi o aquilo que não sonhava em ser... É... Tá confuso, mas eu, particularmente, acabei gostando da minha confusão.

E por isso me atrevo a dizer que o 'pós-texto' é pior do que o 'texto antes-do-pê-ésse'.