quinta-feira, junho 21, 2007

::: Amanheço

Por onde passas senhorita?
Beijando tripas e caminhando em quatro patas!

Ontem comi o inverno inteirinho no café da manhã...
Senti o vento gelado e as nuvens negras em meu estômago.

Cheiro adocicado de esperma e espasmos de alguém que não pode saber...
Sentido pra quem não sabe de nada, dos olhos que nada vêem...

Enquanto caminhavas, passeavas e encolhia, serelepe seus trocados no fundo da bolsa, fiz de mim temporal, me matei por dentro, me esqueci de mim...

Meus caninos devoraram minha língua, meus lábios e meu sono.
Me atrevi a cogitar e regurgitar penhores...

O som de uma viola velha e apagada em qualquer caminho.
Esquecida debaixo do ipê,
Enrugada pela vida,
Amolecida pela língua que tudo fala...

Esqueça a juventude...
Amanheça depois de manhã...

Quando o sol se esquecer de nascer,
Quando a lua mergulhar no balde de roupa suja...
Quando as palavras se esquecerem de acordar...
Quando as nuvens se transformarem em piadinhas infames de maus delitos.

Quando tudo virar nada...
Quando sangue virar poeira...