quarta-feira, janeiro 18, 2006


A curta Estória que queria ser grande

Era uma vez uma Estória, que começava com: 'Era uma vez' e terminava com: 'E viveram felizes para sempre'. Mas o que a historinha queria mesmo é deixar de lado essa viadagem de contos de fadas pra poder enfim, crescer. Na verdade, a pequena Estória queria mesmo é ser enredo de novela das oito, cheia de lágrimas e dramas intermináveis, que o autor vai prolongando de acordo com a aceitação do público.

O céu eram risos intermináveis, ela queria é que o céu fossem lágrimas ácidas que lhe cortassem a carne, para que ela pudesse enfim, chorar.

Pequenas Estórias sempre se repetem na vitrola que toca disquinhos infantis, mas o sonho dela era ser narrada no rádio por algum locutor de voz doce, alguém que ao lê-la fizesse com que as senhoras de respeito molhassem as calcinhas e que suassem frio, deixando que florescesse todo aquele desejo tímido que as fizeram crer de que sexo deveria ser feito só para fins de procriação.

Mas a pequena Estória morreu com a censura. Alguém achou que no trecho em que o personagem principal aos 5 anos de idade ia ao bosque de mãos dadas com sua amiga de idade igual, ou inferior a sua, era algo que remetia à: 'ovelhas desgarradas que são levadas publicamente ao facismo por mãos amigas'. E até ontem ela se encontrava lá, arquivada em um arquivo público com a tarja: CENSURADO! E a pequena Estória foi encontrada há pouco tempo atrás, queimada com arquivos da ditadura em uma base militar do exército do seu país.

E para aqueles que não botavam fé na pequena Estória, ela não cresceu... Mas fez crescer, pois virou adubo orgânico, e árvores e folhas sussuram seu nome...

FIM.


BLEEEERRRRGGGGHHHHH